sexta-feira, abril 19, 2024

Arlequim e a Luz



Arlequim encontrou o Professô nos degraus da Catedral de Cusco, no Peru. Aquela Catedral ja tinha sido um Templo Inca que havia sido transformado numa Igreja Católica pelos espanhóis. O Curioso era que a estrutura de cima era espanhola barroca, mas as bases eram as pedras firmes das construções Inca.

O Professô estava sentado com seu chapéu branco e seu livrinho de anotações e Nosso Palhaço Cósmico se aproximou e sentou ao seu lado. Não era a primeira vez que o Professô encontrava o Arlequim, mas o Arlequim não se lembrava do Professô, embora tivesse conversado com ele, uma última vez numa caverna há Paus e Copas atrás. Aquele dia era o dia do *Rei Sol:Taita Inti* e todo o país estava em festa, numa mistura entre os símbolos cristãos e incas, típica da evolução das Espadas na mente humana.
- O Senhor sabe o que eles estão festejando aqui? - perguntou Arlequim.
- É uma festa da Fé e da Luz que concilia o que se foi e o que ficou nessa mistura colorida linda da Vida - respondeu o Professô.
- Eu sei pouco - disse o Arlequim - mas esse povo foi dominado pelos espanhóis, sua fé foi transformada e quase excluída, os dominadores levaram todo a riqueza daqui e só deixaram pobreza e eles ainda estão celebrando... de onde eles tiram essa força para transformar *dor em arte*? 
- Da Fé que eles possuem em Taita Inti: o Pai Sol desse povo.
- Taita Inti?
- Sim, O Pai Sol ( *Luz*) se unia com a Mãe Terra ( *Fé*) Pacha Mama e as sementes (*Filhos da Fé e da Luz*) poderiam germinar e florescer nessas terras, trazendo alimento para todos. A conversão Cristã não conseguiu excluir nem a Fé, nem a Luz do povo Inca que aí estão, celebrando seu *Dia do Sol*.
- É um milagre, não? Manter a Fé e a Luz quando estamos na dor.
- O coração é celebração, Arlequim, não cabe na escravidão e na dor. Quando o *coração se expreme de tanta dor*, o milagre ocorre e você entende que *o grande vencedor se ergue com a dor* e mesmo diante da crueldade e *as perdas* que, às vezes, sombreia nossa dimensão, o coração opera o milagre de *continuar a ter fé*. 
- Acho que vou me juntar ao cortejo, Senhor, depois da estória que o Senhor contou, me vi na obrigação de celebrar junto a esse povo.
- Vai, Arlequim, mas não se esquece. Quem se reconhece *Filho do Sol*, só tem uma única obrigação...
- E qual é?
- *Brilhar*

Arlequim e o Ensinar


Entre o Cerrado e Caatinga, a Rosa dos Ventos se movia e Arlequim viajava. Ele gostava de caminhar pelos 4 cantos, sentir paisagens, falar com as pessoas e se conectar com tudo e todos. Viajante, ele se sentia um só com o caminho, peregrino do dia, romeiro da noite, ele não sabia se gostava mais do sol refletindo no rosto das pessoas ou a noite revelando os segredos ocultos. Entre uma curva e outras chapadas, entre o Viadeiros e Diamantina, foi entre o Goiás e a Bahia, que ele encontrou o *Impostor*. 

Lá estava o nosso Arlequim ensinando um menino a montar uma pipa, e onde quer que ele ia, surgia alguém querendo aprender algo que ele sabia ensinar. Ele não precisava montar uma escola ou uma barraca, pois era como se ele próprio fosse a sua Sala de Aula. Sentia que quem precisava aprender com ele, simplesmente aparecia, não era sorte, era a *sincronicidade* entre oferecer algo que o mundo precisa. E foi assim, que nosso Arlequim percebia que não precisava oferecer, bastava estar disponível para ofertar, e *eles e elas*  vinham. Afinal, se havia algo que ele tinha aprendido é que há mais gente faminta e sedenta de saber do que gente disposta a ofertar o que sabe. E foi ensinando uma senhora sobre um rezo alegre com ervas que sabia que era bom para curar língua de quem fala mal dos outros, que ele sentiu um redemoinho se aproximando na rua deserta. A senhora se afastou, pois gente antiga sabe que "moinho é rede do demo", mas Arlequim que já não fugia mais desses encontros, reconheceu quem estava dentro do redemoinho, e saudou o seu *Oposto*, que rodopiava ao vento disfarçado de Iansã. 

- Não vai saudar a sua Mãe dos Ventos? - disse o Impostor

Arlequim se inclinou em saudação, mas não era em reverência a Oyá - Eparrei! - ele fez sua saudação de respeito com o seu *mudra* de proteção ao mesmo tempo. 

- Saúdo e respeito a sua existência nesse Mundo Dual, Senhor Impostor.

O Oposto percebendo que não enganava nosso Palhaço Cósmico, retornou a sua forma original, que era uma imagem que mudava de forma de acordo com as palavras que dizia.

- Ahhh... estava só brincando para saber se você acreditava ...

Arlequim não riu, mas também não fez cara de confronto, sabia e sentia que o Oposto era professor, mesmo que usasse uma didática distorcida.

- A que devo a honra da sua presença? - Perguntou 

- Estava te observando ensinando esse povo e decidi trocar umas palavrinhas com o amigo, mas deixa eu te fazer uma pergunta: Você é professor? Porque você sabe para ensinar é preciso ter diploma, ensino superior, permissão e carimbo autorizando, não é não?

- Eu sou o Arlequim e você é o Oposto. Somos o que Somos. Eu ofereço quem sou e você oferece o que É, e o mundo recebe o que ofertamos, se isso será aprendizado ou atraso na caminhada de quem recebe, não cabe a nós decidir ou julgar, não é assim?

- Sinto que você esta mudado, Caro Palhaço, desde o nosso último encontro, houve aí dentro de você, umas transformações, não é não?

- Ninguém entra no mesmo rio, do mesmo jeito, uma segunda vez, não é assim?

- Ou a gente muda ou o rio muda, não é não?

- É assim, não?

- Mas você sabe, Arlequim, que você ainda tem muito chão para caminhar antes de se tornar um professor, não acha que esta ensinando antes do tempo? Não acha que é preciso ter mais experiência para ter certeza absoluta que não esta fazendo bobagem? Muita gente por aí, não consegue ensinar sem ter segundas intenções. Muita gente por aí, ensina por ego, oferecendo pão para colher água...não é não?

- Recebo suas espadas, Caro Oposto, mas me responda, Oyá, Eparrei Minha Mãe, deixa de ventar?

- Claro que não! 

- Ajudar quem precisa é meu Ventar, deixar de ajudar é ir contra a minha Natureza, assim como seria contra a sua Natureza, nos ensinar com a luz, quando a sua escuridão ainda é o que o mundo precisa receber, não é assim? 

- Você esta dizendo que quero te sombrear, Palhaço? Porque se sim, você esta enganado, eu sou apenas um amigo proseando, não é não?

- E recebo a sua prosa com respeito e carinho. Reconheço a sua importância e lhe agradeço, Caro Oposto.

- Bom... a conversa esta boa, mas preciso seguir meu caminho, Arlequim, mas deixo aqui meu conselho, reflita e sinta se o seu Ensinar é mesmo o que há abundante em sua... como você diz mesmo? ... dispensa.

- Aceito, recebo e sinto o seu conselho, Caro Oposto, até o nosso próximo encontro. 

- inté... "Professor Arlequim!" - disse o Oposto com sarcasmo, e sua imagem virou a forma de um Carcará, batendo suas asas e voando para longe. 

E antes mesmo que Arlequim pudesse refletir sobre as lições daquele encontro, um turista com um mapa na mão, com cara de quem estava perdido se aproximou e perguntou:

- Do you speak English, Sir? I am kind of lost...

- Yes! - respondeu Arlequim - How can I help you?

E lá seguiu nosso Arlequim com o seu Ensinar, enquanto o vento da Verdadeira Oyá trazia alívio aos corpos que se moviam naquele sertão.

*Matnis*
Eparrei!

Arlequim e a Neutralidade


Tic Tac
Tic Tac

Arlequim estava sentindo uma pressa, algo que parecia vir de seu Reino de Copas, mas ele havia aprendido a não excluir nenhum Sentir, observou e deixou a pressa falar, a pressa nada dizia, falava apenas pressa: tic, tac, tic, tac!

Enquanto os ponteiros do relógio cantavam, ele foi convidado por Colombina e Pierrot para um jantar. Arlequim adorava estar com seus amigos e jantar e falar sobre nada e rir, era o melhor ritual que se pode ter com quem se ama. Porém, quando Copas vira Paus nesse mundo dual, as conversas ficam mais racionais, mais acaloradas e mais destinadas a uma construção de realidade palpável e objetiva, e a pressa de Arlequim começava a afetar o seu se relacionar, pois ele notou o quanto Colombina e Pierrot eram tão diferentes: Colombina era Yang, solar, expansiva e explodia em ideias – Pierrot era Yin, lunar, introspectivo e queria guardar tudo só para si, mas os dois pareciam ter mil conselhos em ajudar Arlequim em desenvolver os seus Ouros do seu Servir. Tic Tac Tic Tac Tic Tac…

- Você deveria ser um cantor, Arlequim, compor, fazer música para o mundo. Você tem esse dom de criar e vai ser muito próspero fazendo isso – dizia Colombina.

- Você deveria ser um escritor, meu amigo Palhaço, você escreve tão bem e conta estórias como ninguém, e escrevendo, você nem precisa se expor, pode permanecer nos bastidores e prosperar – dizia Pierrot.

Tic Tac Tic Tac Tic Tac

- Você é Rock and Rolll – dizia Colombina

- Não, ele é mais Jazz – defendia Pierrot

- O que você acha? – perguntaram os dois...

Tic Tac Tic Tac Tic Tac

- Eu vou lavar os pratos! – Respondeu Arlequim, deixando os dois discutindo sobre a vida e os rumos do Servir do Palhaço.

E lá estava Arlequim, limpando os Paus, lavando com as Copas, enquanto a limpeza dos pratos, revelava mais uma vez os seus Ouros. E quando tudo estava limpo, seco e colocado em seu devido lugar, Arlequim sentiu o Silêncio tomar de conta...

TAO!!!

Arlequim se sentiu tomado pela força da organização, do silêncio e da temperança. O Tic Tac se tornara o Tao, e o silêncio tinha o som da *NEUTRALIDADE*. 

A neutralidade do TAO conversava com nosso Palhaço Cósmico no silêncio e o dizia que ele já sabia tudo que precisava saber, tudo que precisava fazer. Lá nos bastidores, Obá sorria... Ele lembrava que a sua vida dedicada ao Servir não era em vão e para que seu Servir pudesse ajudar o mundo e lhe trazer todos os recursos que ele precisava para se nutrir e se manter, ele apenas precisava se afastar do Tic Tac e deixar o Tao prevalecer.

Na Neutralidade, ele não se confundia com as Copas, nem com os Paus.

Na Neutralidade, ele não seguiria nem o Tic nem o Tac, mas compreenderia que a soma dos dois, o levava ao Tao que tudo tem e nada possui ao mesmo tempo.

O Tao lhe mostrava que a prosperidade não era sobre *TER*, mas *MANTER* o que já possuímos naturalmente e isso se refletiria naturalmente na sua *DISPENSA* que sempre estava abundante porque o Universo *não mantem dispensas vazias* de quem *TEM A CORAGEM* de servir aquilo que transborda e o AMOR SEMPRE TRANSBORDA.

Arlequim sabia que seus Ouros transbordavam porque a *FONTE ORIGINAL* (ora iê iê, Mamãe) nunca deixa de fluir para quem serve o seu melhor.

Então o TAO voltou a ser Tic Tac, o relógio começou a correr novamente e com ele, Colombina e Pierrot, o Mundo que o esperava e a *AÇÃO* (que é matéria prima e rica do *REINO DE OUROS*) o convidava para agir, entre erros e acertos, acertos e erros, mas para colocar o seu Servir em movimento. 
Essa era a sua arte. 
Isso é o seu *Matnis*.

Arlequim e o Servir


Arlequim queria fazer alguma coisa pelo mundo e por todas as pessoas. Já havia aprendido tanto sobre Gandhi, Madre Tereza, o Homem-Aranha e Ailton Krenak e resolveu sair para as ruas e montou uma barraca, na Praça da Sé, para dar carinho e afeto ao povo que morava na rua. 

"Barraca do Abraço" estava escrito na cartaz de sua tenda e ele se preparou para   abraçar quem desejasse o seu *Servir*, mas ninguém se aproximou. 

E olha que nosso Palhaço Cósmico era uma figura chamativa, e mesmo com suas roupas e barraca colorida, ele continuava a ser ignorado por todos, mas ele não desistiu. Retornou no segundo dia, no terceiro e no décimo, mas o resultado era o mesmo: *invisibilidade*.

Quando ele já pensara em desistir, ele percebeu que havia uma outra barraca em que o povo que vivia nas ruas fazia fila, era a *Barraca de Pantalone*, um antigo conhecido de Arlequim, que tinha uma loja onde vendia de tudo - a preços um tanto abusivos - Pierrot e Columbina detestavam comprar lá também, mas para a surpresa de Arlequim, Pantalone estava fazendo um enorme sucesso e parecia ter mudado, pois ele distribuia Pão para as pessoas de graça. 

Arlequim foi até a barraca do comerciante e o observou e depois que ele já tinha distribuído seus pães e se preparava para ir embora, Arlequim foi até o homem e perguntou:

- Senhor Pantalone, vejo que sua barraca de pão faz um enorme sucesso. Parabéns! 

- Obrigado, Arlequim, mas vejo que sua barraca é um fracasso. Sinto muito por isso.

- Bom, abraços é só o que consigo oferecer nesse momento, Senhor Pantalone, mas que bom que o senhor pode oferecer a todos esses necessitados, os seus pãezinhos. Sua alma é generosa. 

- Sim, Palhaço, eu sou um homem bom, mas não sou bobo. Está vendo ali, no outro canto da praça?

Arlequim olhou e viu uma *Barraca de Água* com uma fila enorme de pessoas. 

- Sim, mas aquela barraca cobra pela água.

- Mas é claro! Aquela barraca também é minha. Ninguém come só pão, não é? - disse Pantalone com um sorriso malicioso - e com o preço da água nos dias de hoje...Ahhh tem sido um bom negócio ajudar as pessoas.

- Entendo...

- Entende nada! Você quer um conselho? É de graça...

- Obrigado, mas não...

- Então, para sua Barraca do Abraço fazer sucesso, chame um amigo para montar ao lado da sua, uma outra barraca, a *Barraca da Humilhação*, assim todo mundo que for humilhado pelo seu amigo, vai com certeza, correr para a sua barraca depois. A Humilhação e a mendicância por carinho e atenção são grandes aliadas.

Arlequim agradeceu o conselho que não tinha pedido e foi desmontar sua barraca, refletindo que não era assim que ele queria servir ao mundo.
Quando ele já se preparava para ir embora, um senhor se aproximou e perguntou:

- É aqui que se distribui abraço?...

Arlequim e o Animal de Poder


A Casa de Arlequim tinha dois andares. Na parte de baixo, havia os cômodos em que ele recebia seus amigos e familiares e na parte de cima, todos os quartos aonde ele acomodava seus convidados e suas lições de vida.

Era lá que havia o quarto onde morava a *Noite Escura da Sua Alma* com todas as lições do Reino de Paus e o quarto onde morava o *Dia Claro da Vida*.  Naquela manhã, ele decidiu entrar nesse quarto,  mas antes que entrasse, ele notou que um gatinho saiu de lá.

Era um gatinho amarelo que ronronava e se aninhava em suas pernas, talvez buscando carinho, talvez querendo comida.

Arlequim lembrou que não tinha comida de gato em casa, e tratou de ir até a mercearia para comprar e tão logo retornou para casa para alimentar o bichinho, notou que o gatinho havia se transformado em uma onça que parecia rugir em sua sala de estar.

Com medo e receio que a Onça o devorasse, Arlequim correu para o quarto da *Zona de Conforto*, tentando entender como o gatinho tinha virado uma onça, deixando-a esturrando ameaçadora na sala.

Então, ele lembrou que tinha marcado um café com Colombina e Pierrot e eles estavam para chegar mas a Onça na sala, o impedia de sair e seus amigos não poderiam entrar.

Nosso Palhaço Cósmico tentou até sair pela janela, mas a janela da Zona de Conforto estava emperrada devido a toda a sujeira da procrastinação que se acumulou.

O que Arlequim faria? Como ele escaparia dali? Quebraria a janela? Enfrentaria a Onça?

Então, Arlequim olhou para cada uma de vocês que liam sua história e pediu ajuda, perguntando:

- E agora? O que eu faço?

Arlequim e o Reino de Ouros


Um certo dia, Arlequim cuidava do seu jardim, removendo os últimos paus, galhos secos e ervas daninhas e notou que algo brilhava na terra. Curioso, ele cavou e descobriu que algumas sementes que plantara estavam brotando ouro. 

- É ouro - ele exclamou - Estou rico.

À medida que enchia seu balde e cantava com alegria,  já pensando em tudo o que ele compraria e faria com toda aquela riqueza, o Sol que brilhava rico de luz dourada começou a ser coberto por uma sombra que não era das nuvens, pois o céu estava limpo naquele dia. E o dia claro foi ficando escuro e o ouro foi ficando cada vez mais cobre, quase chumbo. 

Naquele dia que mais parecia noite, Arlequim olhou para o tesouro que já não era tão valioso e ficou imaginando em tudo aquilo que ele havia perdido, antes mesmo de ter ganhado, daí, ele lembrou que havia outro tipo de Ouro que não dependia do dia ou da noite, do Sol ou da Lua, cujo valor era atemporal. O único problema era que aquele Ouro não pagava contas, não comprava posses e nem o traria aquisições, mas tinha o poder de lhe trazer mil aventuras. Aquele ouro eram as suas experiências, seus aprendizados que ele poderia compartilhar com o mundo e com todos.

E estranhamente, quando mais pensava em tudo que ele poderia fazer com aquele ouro interno, e imaginava todas as pessoas que se beneficiariam do seu tesouro, a sombra foi dando lugar para a luz, o Sol foi voltando a brilhar novamente e ele percebeu que quando o espírito  humano passa pelo Eclipse Total do Coração, o nosso corpo e mente se alquimiza e as intenções chumbos se tornam intento *OUROS*.

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Arlequim e o Perdão


A Rosa Azul era uma das rosas mais raras que existia na Terra, foi o que lhe disse a formiguinha que o ensinara tanto sobre a culpa. Disse a Formiguinha: " Ao encontrá-la, Arlequim conseguiria se libertar de vez da culpa que sentia por ter destruído o formigueiro por distração". 

Sim, nosso Arlequim ainda sentia os esporos da culpa, e mesmo depois de um dia inteiro de 8 segundos sendo formiga, nosso Palhaço Cósmico sabia que não poderia mentir para si mesmo e para as *Copas da Culpa* que ainda derrubavam a última lição do *Reino de Paus*. Ele ainda se sentia culpado, mesmo tendo ajudado tanto e ele havia prometido a Exu, que não mais escaparia de seu Karma e de nenhum item antigo ou novo de sua lista.

Ele então, respirou fundo, e se propôs a procurá-la. 

A Rosa Azul.

Juntou todas as suas ferramentas de *Mago*, pediu permissão a Omolu e Iemanjá e entrou nas Calungas da *Sacertotiza*, saudou Kali, Durga e Parvati, as *Imperatrizes* da Natureza, recebeu do *Imperador* Xangô, uma machadinha para cortar caminhos e na paz de Oxalá, o Grande Babá *Papa* da sabedoria, foi seguindo por cada Canto, Cada Arcano e quanto mais caminhava, menos sinal havia da Rosa Azul, e depois de cruzar com os *Enamorados* descaminhos, perder um certo controle sobre sua *Carruagem* corpo e ter dúvidas em sua mente se a *Justiça* lhe daria o privilégio de encontrar a Rosa Azul, o *Eremita* nele o lembrou que a *Roda da Vida* estava o levando, entre cada ferramenta do *Reino de Paus* a reconhecer o seu *Dharma* de ensinar e com a *Força* que ainda tinha, ele domou o cansaço da fera da preguiça e da procrastinação e parou de procurar a Flor Azul que a formiguinha lhe dizia que poderia lhe ajudar a limpar toda a culpa do seu Ser. 

E se percebeu *Pendurado* numa questão: "devo seguir ou devo parar de procurar uma cura para essa culpa?"
Daí, então, ali, enforcado em sua própria corda da culpa, ele entendeu que a formiguinha nunca disse que ele encontraria a Rosa Azul fora.

*Matnis*

Arlequim fechou os olhos e sentiu que para se livrar daquela culpa, ele teria que achar a Rosa Azul dentro dele mesmo. E foi dentro que ele sentiu, em alguma lugar entre o peito e seu plexo solar, havia algo brilhando, pedindo para ser reconhecido. 

Com carinho, Arlequim fui entrando em cada chacra, nadou em sua própria Aura, cruzou os canais dos Nádis e achou no não-movimento, entre as Montanhas do Silêncio, a Rosa Azul que procurava.

Quando a viu, sentiu sua beleza, e seu perfume conversou com ele, de um jeito que os doces aromas comunicam e tocam em todas as partes, incluindo a *Parte que Sabe*. 

_"Bem vindo, Arlequim_
_Eu sou a Rosa Azul do_ _Auto-perdão_

E se auto-perdoando, nosso Palhaço Cósmico recebeu a última ferramenta do *Reino de Paus*, sentiu o perdão, a clemência, a misericórdia e a piedade que achava que sentiria fora. E sentiu que se *perdoava*, *sentia muito*, e ele se *amava* o bastante para *se agradecer* por toda aquela jornada no Reino de Paus que o levara ao seu *crime*. 

Em suas mãos, a *Machadinha de Xangô* brilhava e refletia seu própria rosto.

" Não há crime, só há compaixão"
Kat Kabecilê

_Seja gentil. Be Kind com vocé_ disse a Rosa Azul. _Na delicadeza da lição das formiguinhas. Na sutileza de desejar se melhorar. Te lembra quem você é. Honra o que Obá lhe entregou. Fez algo que feriu alguém, reconheça, se desculpe, se auto-perdoe e, faça como as formiguinhas, prossiga._

E foi assim que o nosso Arlequim se perdoou e a *Copa da Culpa* se esvaziou por completo. Nosso Palhaço Cósmico estava pronto para o Próximo Ato de sua Jornada Sagrada. 

E a Rosa Azul era o Ouro que ele oferecia as *Glórias, Josies, Merys, Sandras, Denises, Anandas, Cristinas, Márcias, Anas, Milenas,  Ednas e Anes* que vibravam do outro lado por ele.

E o Arlequim disse, segurando sua Rosa Azul :
*Matnis*
🙏🏽

Arlequim e a Culpa

_A formiguinha corta folha e carrega_
_Quando uma corta, a outra pega_
_A formiguinha corta folha e carrega_
_Quando uma corta, a outra pega_


Arlequim caminhava por um parque, distraído, pensando amenidades, quando sem perceber pisou em um formigueiro. Assustado com o incidente, ele viu as formigas fugindo, e a bela construção destruída por seus pés, o que o deixou aflito e meio desesperado, se sentindo culpado por ter sido o pé que trouxe para aquelas formigas, tamanho desastre. O que fazer? Ele se perguntou. Não havia nada em seu Livro da Vida de Experiências que o preparasse para lidar com formigueiro destruído por seus pés.

Com certeza, ele já tinha pisado em formigas sem querer, mas dessa vez era diferente. Era como se ele sentisse a dor das formigas e ele se sentiu muito mal. Pensou em quanto tempo, elas tinham levado para construir a sua casa E ele em alguns segundos, havia destruído tudo completamente.

Uma parte sua tentava lhe convencer que aquela preocupação era bobagem. Ele era humano e tanta gente por aí, pisa em formiga, mata inseto e não se preocupa com isso, mas ele não conseguia evitar a culpa por ter feito aquilo. 

Arlequim se importava não apenas com os seres humanos, mas também com todos os seres vivos, e quanto mais tentava não pensar nas formigas, mas forte sua culpa aumentava. 
Como lidar com isso?
Você pode até achar uma bobagem, boa parte de vocês seguiria seu rumo, mas nosso Palhaço estava aprendendo a sentir os encontros e experiências que tinha no *Reino de Paus* e naquele momento, suas *Copas* o atravessavam, chicoteavam e por mais que ele tentasse se convencer que eram apenas formigas, a culpa retornava, mas algo estranho ocorreu...

Ele observou que as formigas tão logo que se espalhavam, fugindo da destruição de seu formigueiro, para não serem pisadas; retornaram para o local atingido, cada uma delas carregando um pedacinho de terra, barro sendo restituído e passaram a reconstruir seu lar destruído. E Arlequim foi percebendo, que tão logo o acidente tinha ocorrido - todas as formigas pareciam assumir algumas funções, umas reconstruíam, outras voltavam a pegar folhinhas, umas outras pareciam formar um pelotão para defender quem trabalhava de outros insetos e palhaços gigantes que destroem formigueiros e uma delas que parecia mais lhe chamar a atenção, permanecia imóvel e Arlequim poderia jurar, que ela estava olhando para ele e num desses momentos mágicos, que ocorrem entre um segundo e outro, algo extraordinário ocorreu. 
Arlequim não sabia se ele estava diminuindo ou se a formiga estava crescendo, mas ele se viu do mesmo tamanho que a formiga que o observava. E diante desse encontro tão estranho, nosso Palhaço Cósmico que já estava se acostumando com aqueles encontros surreais que surgiam em sua caminhada, apenas se abriu para um tipo de experiência e comunicação que surgia na sua mente.

- O que você faz aqui ainda, humano? Por que não segue seu caminho? – parecia dizer a formiga, mas o som não saia da boca da formiga, mas das antenas.

- Eu não sei ao certo, mas estou me sentindo muito culpado por ter destruído seu lar – disse Arlequim e o som que emitia, também não saia de sua boca, mas da sua mente.

- Não compreendemos o conceito de *“culpa”* que vocês possuem, humanos. Para nós, as formigas, não julgamos experiências como boas ou ruins, experiências são apenas experiências, quando uma de nós se perde ou não consegue realizar seu trabalho, todas nós somos afetadas, mas a formiga que se perde ou afetou o trabalho de todas as outras não se sente *“culpada”*, ela segue, nós seguimos adiante, prosseguimos. Sentimos que vocês fazem o contrário, quando algo ruim ocorre ou vocês provocam algo ruim ao seu outro, vocês param. Sinto que essa “culpa” que você diz ter, paralisa seu movimento e talvez, vocês possam parar suas vidas e gastar seu tempo com essa culpa, mas nosso tempo é diferente do humano, nossas vidas são curtas e *preciosas* e não temos esse tempo para perder e sentir essa culpa que os fazem parar. 

- E que se eu estivesse mais atento, prestasse mais atenção, eu não teria provocado esse mal a todas vocês...

- Não existe *“SE”* para as formigas, humano, mas sinto que você realmente se importa conosco, por isso, quero lhe propor algo: você aceita ser formiga por um dia e nos ajudar a reconstruir a nossa casa? 

Arlequim sorriu prontamente e concordou, mas a formiga lhe avisou:

- Há apenas uma condição. Se você quiser fazer isso, faça, mas não por essa culpa que você diz sentir. Sou apenas uma formiga, mas posso sentir que essa *culpa* emana energias numa frequência muito densa e baixa, e esse tipo de frequência, não constrói ou refaz nada para outros seres vivos, inclusive para você...

- Sim, eu quero ser formiga por um dia e farei isso não por culpa, mas porque quero realmente contribuir, ajudar e aprender...

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