terça-feira, março 26, 2024

Arlequim e o Obsessor


Arlequim conhecia muito bem seu obsessor favorito. Após tantos ataques, nosso Palhaço Cósmico sabia quais eram as técnicas utilizadas, pois seu Obsessor era muito criativo e inteligente. Afiado em Espadas e Afinado com as Copas, seu Obsessor já tinha tentando o ataque direto e ofensivo. Tentara se passar como amigo, se vestir como guia, demonstrando profundo interesse e lhe oferecido ajuda nos momentos em que Arlequim caíra, mas foi através dos ataques do *Reino de Paus* que Arlequim o reconheceu, e descobriu onde seu obsessor morava e foi ao seu encontro e o encontrou num num desses sonhos, projeções, transes, viagens malucas que geralmente a gente embarca entre um segundo e outro, mas lá estava ele, num canto, chorando e encolhido em algum lugar entre Marte e Feira de Santana dentro do nosso Andarilho.

- Quer um abraço? – perguntou. Sim, nosso Palhaço Cósmico agora se  compadecia da dor de todos, até dos seus inimigos favoritos. Sentia que queria o bem de todos, até de quem o queria mal.

- Por quê? O quê você quer de mim?

- Nada! Você está chorando, sinto que você precisa de um abraço. Quer?

Ele o olhou com desconfiança, mas aceitou seu abraço e chorou no seu ombro por ciclos que duraram uma eternidade de um macro-segundo.

- Você sabe que eu vou voltar a te atacar, não sabe?

- Sei!

- Você sabe que assim que eu me recuperar, eu vou continuar tentando te destruir com todo tipo de pensamento e impulso que você nem vai saber que veio de mim, pois eu vou disfarçar de desejos e impulso seus?

- Sei!

- E por que você ainda quer me abraçar?

- Porque eu te respeito na sua natureza de querer me prejudicar. Você deve ter seus motivos, mas seja lá o que você estiver aprontando ou deseje fazer para me prejudicar, eu também sei a minha natureza e a minha natureza é abraçar quem precisa com todo o afeto que eu posso dar. Sou assim, você me conhece tão bem, então sabe que não estou mentindo ou que estou com segundas intenções. Só sente, vai? *Matnis!*

- Mas não é natural! – disse ele se afastando – Você deveria me atacar, reagir com raiva e querer retribuir tudo aquilo que eu faço para te afetar. 

- Natural é sermos quem somos quando sabemos quem somos. Quer mais um abraço?

Ele olhou nosso Palhaço ainda desconfiado, mas voltou a chorar sem parar e disse:

- Quero!

E Arlequim abraçou o seu obsessor favorito, sem segundas intenções de mudar seu desejo de o prejudicar. Abraçou e ainda vai abraça-lo e querer o bem dele, e mesmo que o nosso Palhaco Cósmico saiba das mil técnicas de Desobsessão, magia ritualística, apometria, enfrentamento catimbozeiro e outras tantas práticas para o livrar de obsessores fisícos ou espirituais, mesmo sabendo que os sentimentos mais baixos e defensivos poderiam protegê-lo, nosso Arlequim optou pela *compaixão*. Ele poderia até estar errado, mas *se o amor e o carinho* não forem mais forte que o desentendimento de opiniões e crenças e/ou brigas kármicas que mantem essas obsessões, é melhor voltar a fingir que essas relações e ataques não existem. Ingenuidade? Bondade? Não! Prejudicar alguém, mesmo com todas as boas intenções, em qualquer nível ou por qualquer motivo, é o oposto de espiritualidade. Era isso que Arlequim sentia e era assim que ele faria e fez.

E lá ficou o Arlequim e seu Obsessor favorito abraçados. Arlequim com sua Flor no bolso, o Obsessor com a *espada ainda afiada*. Mas nosso Arlequim já sabia tudo que as espadas eram capazes de fazer pois já havia atravessado o *Reino de Espadas*. Já Sentia tudo que o *Reino de Copas* era capaz de fazê-lo fluir, pois já navegara nas águas profundas e rasas das emoções e agora com as ferramentas que o *Reino de Paus* lhe entregara, ele estava preparado para qualquer encontro, e em cada um deles, oferecer o que havia abundante em sua dispensa: *suas flores*.

Arlequim e a Solidão


No Hotel dos Corações Partidos, que fica na Cidade dos Solitários, Arlequim encontrou Pierrot, seu grande amigo, caído, combalido, depressivo, arrasado. O pobre companheiro de nosso Palhaço Cósmico, seu grande amigo, andava cabisbaixo, ombro encolhido, pensando absurdos, flertando com a insanidade, mas quando viu Arlequim, foi como se o Sol entrasse pelas frestas de seu leito escuro. 

- Pierrot, vamos tomar um café?

- Para quê, meu nobre amigo? Colombina não me ama, Colombina não me quer.

- Mas o café... ahhh... o café que eles servem aqui tem um poder mágico.

- Como assim?

- É um Café de Poder. É amargo para acordar seu fígado e te regenerar. A fragrância é tão forte e profunda que vai acordar a “Parte que Sabe” e te revelar que não podemos dar o nosso poder para ninguém. O problema não é o amor de Colombina que você não tem, o problema é acreditar que só podemos ter poder quando temos alguém.

- Ela também te deixou, Arlequim. Como você conseguiu estar assim tão bem, de cabeça erguida e ainda tendo forças para me vir me resgatar? Como conseguiu deixar de amá-la? 

- Eu não deixei de amá-la, Pierrot. Eu ainda a amo - disse Arlequim - E ela não me deixou, ela seguiu para onde ela desejava ir. E nisso, eu compreendi que o amor verdadeiro é não bloquear o fluir do outro que *FOI* com você e agora quer *SER* em algum outro lugar ou com outro alguém. 

- É aprender a deixar partir. É isso?

- Não, Pierrot. "DEIXAR" o outro partir ainda é ter *poder sobre o outro*. O amor não deixa partir. Quando dizemos que deixamos alguém ir, ainda é um jeito de nos convencermos que temos esse poder. Não temos. EU quis dizer, que, mesmo quando somos imaturos ainda de acreditar que amor é ter alguém só para si, podemos ancorar o nosso *Poder* sobre nós mesmos de compreender que os caminhos de alguém que amamos, não é poder manter alguém conosco ou deixar partir, o nosso poder pessoal é compreender, se for amor, que quando o outro se vai, o outro se foi, como o sol que se despede do dia, como as estrelas se despedem da noite. Eu percebi que a amava de verdade, quando não alimentei meu Oposto que desejava controlar o seu ir e vir. Amar é sempre um convite para naturalmente alguém querer estar conosco ou nos acompanhar. Não podemos ter esse poder de fazer alguém ficar conosco só porque nós queremos ou deixar partir como se o outro precisasse da nossa permissão para seguir. Isso não é amor. Amor é Amar e Amar é querer estar com quem a gente quer estar. O Oposto disso é apego, posse e controle.

- Acho que não sou tão evoluído quanto você. Ainda a quero só para mim. Não consigo ficar sozinho, sem ela.

- Aí é que está a questão, Pierrot. Se não conseguimos ficar sozinho e bem, acabamos delegando a estar com alguém esse "ficar bem". A solidão é uma erva-daninha em nosso jardim da liberdade, meu amigo, que precisamos observar e tratar para não contaminar as flores que estão brotando. E Evoluído eu não sou. Eu sou apenas alguém que percebeu que o Amor É tudo menos Ter, Possuir e Reter. Mas quer saber uma grande verdade?

- humm...

- Vem? Mas *só se voce quiser*, pois o café está esfriando e o café vai te fazer Sentir o que minha espada não vai mesmo conseguir ainda.

quinta-feira, março 21, 2024

Arlequim e a Sombra

Arlequim estava meio suspeito que estava sendo seguido. Você já se sentiu perseguido? Já acreditou completamente que estava sendo vigiado e observado a cada passo que dava? Era assim que nosso Palhaço Cósmico se sentia e para reforçar sua sensação, ele descobriu que estava certo, naquele dia ensolarado: ele estava sendo seguido por sua própria *sombra*.

A sombra imitava os seus movimentos e por vezes se escondia, mas depois reaparecia, o que deixou Arlequim preocupado, pois por mais que tentava, a sombra continuava com ele por onde quer que ele fosse.

Angustiado por aquela revelação, ele falou com um cientista que disse:

" Não se preocupe, a sombra nada mais é que obscuridade produzida pela interceptação dos raios luminosos por um corpo opaco como os nossos "

Como era de humanas, Arlequim buscou uma segunda opinião mais psicológica:

"A sombra é tudo o que foi negado, reprimido ou ainda permanece desconhecido pelo indivíduo e está recalcado, ou seja, reprimido em seu inconsciente"

- Acho que preciso de mais uma opinião- disse nosso Palhaço Cósmico e foi buscar uma opinião mais assim *esquisotérica*:

"Essa sombra é reflexo dos obsessores que te perseguem por vidas. Ilumine sua sombra"

Arlequim então decidiu aprender como exorcizar sua sombra e começou a preparar um ritual de alta magia catimbozeira com toques de Teatro Sagrado e traçou um losango 🔹 no chão e em cada ponto da figura, acendeu uma vela 🕯. Recitando os versos mágicos da Geometria Sagrada com a bússola judaica neo-xamãnica *Merkabah*, ele evocou e invocou a *Sombra* para dentro do Losango Mágico e a Sombra se apresentou, inicialmente tímida, silenciosa, depois agressiva e gritante, mas dali a pouco, a Sombra se acalmou e perguntou:
- Por que você quer me manter presa aqui mesmo? 
- Por que você esta me seguindo?
- Eu não estou te seguindo, eu sou parte de você, não cometi nenhum crime, nem te prejudiquei. Prejudiquei?

Realmente, nosso Palhaço Cósmico não lembrava ter sido ferido por sua sombra.

- Você não é um espírito obsessor tentando me machucar ou me atrapalhar ?
- Não. Eu sou apenas a sua sombra. Não tenho culpa se você quer projetar em mim, a sua escuridão.
- E o que é a escuridão?
- Sua ignorância!
- Ignorância do quê?
- Ignorância em querer culpar e implicar a outro ou alguém, suas derrotas, frustrações e neuroses. 
- Então, você é um lembrete que eu posso delegar ao externo, algo que está escuro dentro de mim?
- E também um tanto de preconceito, né? Nem preciso te lembrar o quanto quem tem a pele escura sofre ainda por isso? Yemanjá não é caucasiana... e anjo não tem a pele branca.
- É realmente isso é um pré-conceito. Basta estudar um cadinho...
- É ... se você tivesse estudado mais um pouquinho e usado toda esse esforço que teve para criar esse ritual para me prender, já teria compreendido que sou uma aliada e não algo a ser exorcizado...

Arlequim e O Oposto

Você já conheceu alguém que poderia ter sido você? Já esbarrou em alguma pessoa, cuja história, cuja vida poderia ter sido a sua? Arlequim encontrou seu *Oposto* em uma manhã de domingo. 

Seu Oposto estava caminhando pela Avenida Paulista e esbarrou em nosso Palhaço Cósmico, talvez de propósito, vai saber? Quando aquilo que não planejamos, se apresenta, sempre fica a dúvida: será que está ocorrendo por acaso, ou tudo está mesmo amarrado pelos fios do destino?

O Oposto do Arlequim era um desses homens que você chamaria, nos dias de hoje, *Red Pill*, usava uma camisa onde estava estampada a frase "Orgulho Hetéro" e quando quase derrubou o nosso palhaço, não se desculpou e ainda quis agredir, o chamando de viado, talvez porque nosso Palhaço se vestia com suas roupas cor de arco-íris.

Dai, você se pergunta, nosso Arlequim poderia ter se tornado esse tipo de pessoa? Mas é claro! Muitos são os caminhos da vida, muitas são as influências e encruzilhadas que nos levam a diferentes experiências. Geralmente, quando não estamos contentes com a nossa vida, invejados a vida de quem acreditamos ser mais feliz, mais próspero, mais realizado que a gente, e imaginamos como nossa vida seria melhor se tivéssemos aquela vida que assistimos na TV, que vemos nas redes sociais, mas se pararmos para pensar, as chances é que se nossas vidas pudessem ter sido diferentes, há mais chances de que nossas vidas seriam uma pior versão da vida que a gente tem, nos tornariamos piores que a gente é...

- Olha por onde anda, seu viado! - disse o *Oposto*.

- Desculpe...- respondeu nosso Arlequim, se desculpando quando deveria estar recebendo desculpas.

- Já derrubei quem fez pior que você, palhaço, sua sorte é que estou num dia bom - disse o Oposto, ofensivo e agressivo - Gente assim, igual a você, nem deveria estar solto na rua - completou o homem - E para onde, você vai vestido assim?

Arlequim poderia ter ignorado a pergunta, seguir seu caminho, afinal, aquele cara estava buscando confusão, mas nosso Palhaço já estava entendendo as regras do *Reino de Paus*: quanto mais fugisse desses encontros, mais numerosos eles se tornariam. 

- Não é aonde eu estava indo e onde estou. Eu vim encontrar você. 

- Me encontrar? Tá maluco, mano? Perdeu a cabeça, mané? Não encontro gente como você. Olha para mim e olha pra tu. Você sabe quem eu sou? Sabe quem é meu pai?

- Você é você, não?

- Você não lê jornal, cara? Eu ganho mais em um minuto do que você ganharia por 10 anos. Se eu quisesse ver palhaço, estaria no camarote do _Cirque du Soleil_ e não um _clown_ patético no meio da rua. 

- Então, não sei quem você é.

- Porque você é um idiota que não se atualiza e não acredita no seu poder de mudar seu _mindset_, se fosse como eu, estaria ganhando milhões, mesmo dormindo. Bora mudar seu *drive*, mano? Um dia sem sol é como uma noite sem tarde, mané. Me encontrar é uma oportunidade de mudar a sua vida.

- Oportunidade?

- Sim, mano. E você tem sorte, não é todo dia que o pão chega na sua porta. A vida tá passando, mané, o sol nasce, a bicicleta anda, o lobo uiva e o urso panda, sacou?

- Saquei?

- Olha essa flor aí que você carrega, já se perguntou o por quê? Se você fosse eu, já teria encontrado mil maneiras de vender ela e teria uma rede de floricultura. Quer aprender a se tornar alguém como eu? Comece tirando essa roupa ridícula e use seu tempo, mano, para criar, planejar e executar seus sonhos. Seu tempo é precioso, Eisntein falava " Tempo é Dinheiro". Quando sabemos quem somos e sabemos construir nossa fortuna, não perdemos tempo, nem aos domingos. Pensa quanta grana, você poderia estar fazendo agora ao invés de estar caminhando sem destino pelas ruas da cidade. Essa cidade poderia ser tua, mané? Desperdiçar seu domingo com caminhada é dinheiro perdido que você poderia estar ganhando.

- Mas você esta aqui, caminhando também... você não está perdendo dinheiro?

- Porra, mano, não aprendeu nada? Gente como eu, tem gente fazendo dinheiro por mim. Eu nunca lavei um prato, mané, sabe por quê?

- Porque você tem gente lavando os pratos para você? 

- Não, otário. Porque fui eu que inventei a lavadora de pratos. Qualquer coisa que você passou anos aprendendo a fazer, eu aprendo em 24 horas. 

- Você consegue fazer uma flor? - Perguntou Arlequim. 

O *Oposto* se calou...

terça-feira, março 19, 2024

Arlequim e o Reino de Paus


Às Águas de Março o levaram até ali, diante do *Toco* cortado em meio às Árvores da Vida. Arlequim reconhece as Samaúmas, as Arueiras, a Jurema Preta, o Vajucá, os Pau Pereira e todas aquelas árvores Do Brasil, plantas de poder, Árvores do Saber e o Toco.

Diante do Toco, Arlequim se ajeita e mesmo sem saber o que fazer direito, cansado da caminhada, o nosso Palhaço Cósmico se Senta e o Toco grita:

- Sai de cima de mim, Palhaço!!! 

Arlequim toma um susto e todos vocês também, mas logo se ajeita e compreende que precisa ter respeito com o que se apresenta.

- Desculpe, *Seu Toco*, é que andei, andei e tou meio cansado.

- E o que eu tenho a ver com isso? - O Toco falou e o Arlequim meio que embaraçado e com vergonha, silenciou. E o Toco continuou a falar: o que eu quero saber é o que você fez com a lista?

- Que lista?

- a Lista que você escreveu nas folhas que arrancou de mim?

- Lista?

- É! Lista!

- Valei-me Obá - disse Arlequim - Valei-me, Orixá da Lembrança que eu não lembro dessa lista...

- Eu vou refrescar sua memória, Arlequim - disse o Toco - A Lista que escreveu na minhas folhas com o lápis da minha pele com todas as coisas que você precisa superar em sua vida.

- Ahhh... a Lista!

- Ehhh... a Lista!

- Mestre Toco, acho que perdi a Lista em algum canto da minha memória, mas *SINTO* que essa lista é sobre tudo aquilo que vim trabalhar nessa vida...

- Foi o que eu disse... você está repetindo o que eu disse!

- Acho que estou lembrando... bom... acho que agora que não quero mais esquecer a lista, vou encontrá-la e sentir cada uma das coisas que eu coloquei na lista, certo?

- Você está dizendo o que acha que quero ouvir, Palhaço espertinho, mas deixa eu te lembrar de algo. Essa lista não está na sua memória mental, está na sua memória corporal, só é possível acessá-la *SENTINDO*. E como você se propôs a entrar em meu Reino, é porque decidiu não mais fugir da lista, certo?

- Sim, Mestre Toco, eu não sei bem o que vou encontrar, mas quero sentir cada uma das experiências dessa Lista. Eu prometo que vou fazer isso.

- Não me prometa nada. Quem jura ao Divino que vai fazer algo é porque quer fazer por obrigação ou por medo. Se for fazer, faça porque já chega, né? Já chega de fugir daquilo que você precisa transcender, então, não caia nas armadilhas da matéria. Não há desvios, não pule etapas. Esse é o *Reino de Paus*, é hora de trabalhar seu construir e acender de vez, o seu fogo 🔥 interno do seu Servir ao mundo. Você cortou minha madeira, faça uma Fogueira Decente para iluminar os seus irmãos e irmãs.

sexta-feira, março 08, 2024

Arlequim e o Velho Zeitgeist


Arlequim entrou na Caverna com sua Lamparina na mão para encontrar o Velho Zeitgeist. Nessas tantas cirandas da vida, nosso Arlequim havia adoecido, fraquinho pelas picadas do mundo, quase tinha morrido, coisas da juventude e de unir um exército de anti-corpos para proteger seu veículo, mas que havia lhe abatido um cadinho, suficiente para lhe causar um medinho de morte, perder toda aquela chance de vivenciar tudo isso, daí, seu Anjo o guiou até o Velho Zeitgeist que vivia na Pedra do Sapo, naquela Caverna do Alto da Montanha, para onde quem tinha Medo da Morte sempre ia para se isolar e lá foi nosso Andarilho...

Lá chegando, percebeu que a Caverna era uma espécie de bunker, abrigo anti-nuclear, herança da Guerra Fria, onde havia de tudo um pouco, menos cheiro de vida, um Lar Protegido, mas distorcido, onde um velhinho vivia com seu Cachimbo de Faz de Conta sendo aquecido por uma Fogueira de imagem refletida numa TV de tubo, preto-e-branco. 

Arlequim o saudou e falou, com aquele misto de quem precisa falar algo para parecer agradável socialmente:

- Sua casa é muito aconchegante - mas ele mentia, o cheiro de mofo era forte, e o velho acumulava tanta coisa em sua estante: pilhas de conhecimento nunca compartilhado, livros nunca emprestados, música nunca curtida com outras pessoas, filmes em vídeo e CD que o velho nunca tinha assistido com alguém que não ele mesmo.


* Você está mentindo - disse o velho - diga a verdade se quiser o meu carimbo.


* Carimbo? - perguntou nosso Palhaço Abatido

* Sim, para continuar a sua viagem, você precisa do meu carimbo te dando permissão. 

Arlequim quis dizer que não precisava da permissão de ninguém para continuar sua trilha, mas em seu passaporte, havia um lugar, onde ele viu escrito "Carimbo/Visto do Zeitgeist". Como mesmo abatido, ele queria seguir viagem, se sentou numa poltrona cheia de poeira, Ácaro e cheiro de tudo aquilo que havia passado e nunca havia sido experimentado.

- Você está Medo de Morte?

- Não sei se é isso, mas tenho receio de prosseguir essa jornada e me machucar, me frustrar com o que sonho, ter meu coração partido por quem não me ama.

- Ahhh... disse o Velho... Mas você terá seu coração partido, terá sonhos frustrados, vai adoecer, vai sofrer e vai se dar muito mal nessa vida...

- Foi o que pensei...

- Mas quem disse que também o contrário não pode ocorrer, as mesmas chances de algo dar errado são as mesmas chances de algo dar certo. Você também será amado, terá sonhos realizados, vai viver em saúde plena e vai rir de alegria. Sua jornada na dimensão dual tem um, tem dois, tem branco, tem preto, e se você for esperto, também terá o 3, que é você no MEIO.

Arlequim não aceitou aquilo muito bem, todo aquele discurso era o tipo de fala de quem ensina tudo e não aprendeu nada, “faça o que digo, não faça o que eu faço” estilo e já que o velho queria que ele dissesse a verdade, o nosso Palhaço disse:

- Não me leve a mal, mas não acredito nesse discurso. Tenho dores inimagináveis, pensamentos que me açoitam, frustrações e desilusões suficiente para saber que o mundo é cruel e temos que sobreviver, e não brincar de viver apenas – ao dizer aquilo, nem o Arlequim acreditou no que falava, não parecia ser ele, parecia que eram as suas dores que falavam por ele.

- *RESPEITO!* – Gritou o velho enfurecido. Eu não fui até você, você veio a mim e já que veio até aqui, APRENDA! Tem professor que ensina bem o que nunca aprendeu e tem professor que ensina melhor aquilo que viveu. Qual professor você quer ser? Eu só ensino o que posso ensinar, e se você não quiser terminar os seus dias numa caverna com todo esse conforto de quem foge da vida, assuma: você não está com Medo da Morte, você tem MEDO DA VIDA!

- Eu...

- MEDO DE VIVER nos afasta das pessoas, do mundo, das experiências, de tudo – disse o velho – Muito fácil é se isolar numa caverna como eu fiz, juntar tudo aquilo que lhe dá segurança, regurgitar o seu saber acumulado se achando a pessoa mais sábia do mundo, difícil é dar colo, cultivar os frutos para compartilhar com o mundo, esse é o cultivo, essa é a Cultura do Servir a todos, ao povo, ao popular, entendendo a linguagem do mundo e contribuindo com as suas espadas para que seu conjunto de ideias se una com a tradição do mundo e sirva como tapete voador para quem precisa ter os pés no chão, pois se não fizer isso, não vai “sobreviver”. Não caia nas *Armadilhas da Matéria*, e não use a vehice, a doença, as duas dores, a falta de dinheiro, o seu suor e seu cansaço como desculpa - Quem tem o privilégio de ter acesso a espiritualidade e ao conhecimento, tem o dever de ser cultura para o mundo, mas tudo é uma escolha. Guarde tudo para si e termine sendo culto para as paredes; compartilhe e seu CULTIVO alimentará quem tem fome de conhecimento e saciará a sede de quem tem sede de sabedoria. Sabedoria é...

- Saber Doar!!!

- *Matnis!*

- Desculpe! O senhor está certo, não quis ...

- Ofender?

- Sim!

- Me ofendeu, mas estou o velho o suficiente e não sou mais afetado por ofensas, palavras desencontradas impermeadas de sentimentos mal resolvidos em copas imaturas. Estou vacinado contra essas picadas, você também será vacinado, desde que não se submeta as regras, rótulos, crenças limitantes e dogmas do mundo. Tudo é dual tanto para o bem quanto para o mal. Portanto, me dê o seu passaporte.

Arlequim entregou ao velho o documento, e recebeu dele, um carimbo com um símbolo. O velho então devolveu o passaporte ao nosso Palhaço, mas antes falou:

- Observe a Linguagem do Mundo, aprenda a Falar como o mundo fala, a escutar como o mundo ouve, Sinta o sentimento do mundo e espalhe as suas ideias de uma maneira que todos possam Sentir esse algo mais profundo e sagrado que você trás em seu sorriso, mas sempre sendo um palhaço do meio, nesse equilíbrio sutil entre as duas bandas. Vai viver, menino, vai brincar de viver... e isso é muito sério! 

Arlequim pegou seu passaporte e sentiu o Zeitgeist. E quando estava saindo da caverna, viu a sua própria foto na parede...

*MATNIS*
♠️❤️♣️♦️

Arlequim e o Anjo


Foi a Tia do Arlequim que o ensinou, quando ele era Curumin, que antes de dormir, ele podia rezar assim:

" Santo Anjo do Senhor
Meu Zeloso Guardador
Que a Deus a ti me confiou
Guarde minha alma com Amor"_

E nosso Palhaço Cósmico mesmo sem entender o que era Anjo, Arcanjo ou Querubim, passou a rezar toda noite antes de dormir de tal forma, que se fez gente grande e ainda orava, meio que automático, meio que condicionado, mas ele se sentia bem ao dormir, protegido, como se o seu Anjo da Guarda estivesse ao seu lado e esteve, durante todo o tempo em que ele rezou, mas um dia, lhe disseram que aquilo era bobagem, coisa de criança, Anjo nem existia, como podia ter asas? Que tudo aquilo era um pacote cristão que enfiaram em seu coração, e ele repetia como um papagaio e na natureza da sua imaturidade de uma fase em que todos parecem ter razão, e o direito de acabar com os encantamentos dos Contos de Fada, ele parou de rezar, e deixou de acreditar em Anjo e suas noites já não eram mais tão tranquilas e em paz assim, e as perturbações eram tamanha, que depois de um grande tempo sem rezar para o seu Anjo da Guarda, ele relembrou a oração que a Tia havia lhe ensinado e orou novamente. Vai que funcionasse...

_"Santo Anjo do Senhor_
_Sob a lei da Piedade Divina_
 _Que sempre nos Governa_
_Guarda, rege e ilumina_
_Proteja o meu corpo aqui na Terra"_

E ele sentiu tranquilidade novamente. Como se fosse mágica, e era, a oração o acalmou e depois de muito tempo, ele dormiu em paz e sonhou...

Sonhou que estava num deserto numa espécie de noite e de dia. Não havia um ser vivo, não havia barulho, até o vento era silencioso. Ao se mover no silêncio, nosso Arlequim se sentia um tanto estranho, mas a ausência de som, também ressoava uma ausência de pensamentos e sem pensamentos, não havia palavras, conceitos, preconceitos, ideias, traumas, lembranças ou expectativas, e nisso, o nosso Palhaço Cósmico intuía que ele estava prestes a vivenciar algo que mudaria a sua jornada, daí, ele percebeu que ao intuir isso, um pensamento surgiu, mas logo se desfez no silêncio e então, um raio de luz, luz pura, brilhante e viva caiu do céu ou saiu da terra e Arlequim sentiu que estava na presença do seu Anjo que sempre esteve com ele, desde a infância e se fez calor e afeto através do silêncio da sua devoção, das pausas das palavras da sua oração que sua tia ensinara, no calar da fé que é mágica e milagrosa quando não estamos imersos no barulho dos pensamentos duais que desviam, desafiam, duelam e duvidam.

O Anjo não tinha asas, não era branco, nem negro; o Anjo não falava, não repetia salmos, nem parecia ser cristão ou muçulmano, nem tinha harpa, nem tinha espada, nem gênero; o Anjo era o fogo vivo que parecia estar entre a noite e o dia, o bem e o mal, o masculino e o feminino, mas não era dual, não era duas coisas, o Anjo era, apenas era o Fogo Vivo, então, o Anjo falou:

♩♪♫♬♭♮♯🎵🎶

Arlequim Observou...

🎵🎶♩♪♫♬♭♮♯

Arlequim Sentiu...

♩♪♫♬♭♮♯ 🎵🎶♩♪♫♬♭♮♯

Arlequim *Matnis*

Arlequim e o Livro


Nosso Arlequim ganhou um livro misterioso, cuja capa grossa e escura, não dava pistas sobre qual aventura, qual conhecimento, Arlequim embarcaria ao abrir aquele livro, e com muita curiosidade, ele sentiu a textura da capa e o cheiro das páginas...ahhh... nosso Palhaço Cósmico amava ler e descobrir mil novas experiências que os livros traziam, muitas delas, inimagináveis para nosso Poeta da Flor. 

Quando um livro é lido com coração, a palavra é sentida, as letras ganham vida e a magia ocorre. Magia do poder que as palavras possuem de mudar nossos sentimentos, pensamentos que modificam a nossa realidade; e foi com tamanho amor e respeito que ele se preparou para aquele ritual sagrado da leitura e quando finalmente abriu o livro, o título o surpreendeu: 

*O Livro da Nossa Vida*.

Nosso Palhaço Cósmico, observou, sentiu e virou as páginas, sentindo no tato de seus dedos que as palavras estavam vivas, elas pulavam da página, o tocavam de volta e circulavam pelo seu olhar.

Que mágica era aquela? – ele se perguntou, mas decidiu se entregar a experiência e o Livro primeiramente leu nosso Arlequim e só depois se deixou ser lido.

“Você está me ouvindo com os seus olhos, Arlequim, está me sentindo? Eu sou o *Livro da Sua Vida* que se escreve por si, com cada experiência vivida que vira palavras assim e cada leitor das suas palavras que degusta desse banquete de palavras, bebe desse vinho de frases, se alimenta e também escreve seu livro dentro de si: O Livro das Nossas Vidas. Quem tem paixão pelas palavras, domina a arte da magia, que não é sobre elementos de alquimia, nem oferendas a deidades, a Magia é a palavra espada que tirada da pedra, se transforma em ferramenta e daí o salto que o iniciado pode dar."

"Escrever é se tornar aprendiz de mago, de bruxa, feita, feito em MATNIS, a realidade ao nosso redor se transforma. Se você penetrar surdamente no Reino das Palavras, você poderá ir além e ter as ferramentas de todos os reinos que a sua mente permite acessar e seu espírito pode sentir.”

Arlequim sentia cada palavra como se fosse sussurrada no seu ouvido. E você? Consegue também ouvir a minha voz lendo essas palavras no seu ouvido? Consegue sentir? Arlequim aprendeu com aquela ferramenta que quando se abre um livro, quando se lê um texto e quando se escreve uma palavra, sem obrigação, mas com coração e compromisso com a magia ofertada, as palavras criam vida e vida é matéria, manifestação, sua realidade, *NOSSA REALIDADE*.

- Como posso ensinar para meus amigos, minhas amigas sobre essa magia da palavra, dos livros?

Arlequim perguntou ao livro que o escutou e as palavras então foram respondendo pelo ar, letras saltando do livro, frases pedindo passagem...

“Não precisa explicar, não tente, quem já sentiu o MATNIS, pressente, entende, compreende e está sentindo que cada vez que eles estão engajados, comprometidos, envolvidos e participam dos estudos das suas aventuras, das perguntas, das leituras com coração e escrevem com carinho, porque querem e não por obrigação, suas palavras ganham vida e transformam suas realidades. Essa é a magia da egrégora proposta, da escola mágica. Não é e nunca foi o poder que você tem com as palavras apenas, mas a criação conjunta. Um livro nunca é sobre apenas uma pessoa, uma estória nunca é sobre apenas uma vida. Eu sou o Livro da Nossa Vida, das NOSSAS VIDAS, e conto no encanto a estória de cada um de vocês. Esse Livro é SOBRE VOCÊ; e essas são as suas lições de feitiçaria, pois para um Bom Feiticeiro, uma Boa Bruxa, bastam as palavras do Livro de Suas Vidas.”

*Matnis*

terça-feira, março 05, 2024

Arlequim e o Aprender

Havia dois caminhos à sua frente, um levava a um palácio brilhante e outro à floresta. Nosso Palhaço buscava aprender, pois sentia que sua missão era ensinar, daí, ponderou e decidiu pegar o caminho que levava ao palácio...quem sabe ali não era a escola.

Nosso Arlequim viu aquele palácio tão bonito e na porta estava escrito: Sabedoria. 

- Eu sabia que aqui era o local certo! – ele pensou, enquanto entrava e via um belo salão dourado. Ele entrou, pisando macio com respeito, pois já sabia que não caminhava mais à esmo, cada parte da jornada, ele recebia uma ferramenta e cada ferramenta o ajudava a caminhar melhor, e assim, não estava mais equivocado e mesmo que estivesse (e ele não tinha medo de errar), são tantos os bons frutos, que mesmo se amanhã, ele descobrisse que estava errado, o aprendizado foi digerido; a lição espalhada em palavras – Errar sempre leva ao Aprender - Ele não sabia o que lhe aguardava ou se teria êxito, mais percebia na sutileza do que sentia, no perfume que cheirava, que não precisava acreditar para saber que sempre houve algo, sempre havia um porquê, sempre houve, há e haverá um Criador, um Arquiteto Divino que planejou, olham – vejam só - aquele salão dourado revelado e que lhe aguardava.

O mais curioso é que Arlequim já tinha estado ali antes...

E foi permitido que ele voltasse para esse salão dourado, depois de um bom tempo exilado por suas próprias desconfianças e se conto o que eu conto é que nosso Arlequim me deixou contar o que ele sentiu, pois preciso lembrar aos meus irmãos que estamos todos destinados a ocupar o nosso lugar ao lado do Pai, da Mãe e do Irmão. Somos todos filhos desse Reinado.

No Salão do Reino Dourado, ele viu centenas de pessoas que falavam línguas distintas, mas que se comunicavam pelo Sentir – MATNIS - todos os credos falavam sobre uma única fé; tanto faz se você segue Krishna, Jesus ou Maomé: SOMOS TODOS UM SÓ.

Quem entra no Salão, jamais esquece que ninguém e todos tem toda a razão e ao respeitar as mais diferentes formas de manifestação da fé, compreendemos que não há nada mais sagrado do que a união de todos os credos e linhas. Isso resulta em conhecimento que são ferramentas, mas são as ações que levam a sabedoria.

E a sabedoria, é a ciência de SABER DOAR.

Foi por buscar o saber doar, que Arlequim entrou naquele Palácio da Sabedoria e encontrou com o Rei Salomão.

- Finalmente, cheguei em seu salão, meu Grande Rei da Sabedoria. Gostaria que o senhor me ensinasse a ser sábio.

O Rei Salomão olhou o nosso Palhaço Cósmico, sorriu, com os olhos brilhantes, respondeu:

- Você aqui de novo? 

- Eu? Já estive aqui? Acho que sim, mas não me lembro direito...

- Sim, já tivemos essa conversa diversas vezes, meu caro Palhaço, e se esqueceu porque sempre pegou o atalho, o caminho mais percorrido, mais fácil.

- Como assim...

- Já te expliquei e explicarei de novo e quantas vezes for preciso, mas te recomendo, só uma sugestão: ao invés de pensar a respeito, observe e sinta o meu conselho. 

“Não se aprende a ser sábio num palácio, se aprende a sabedoria, lá fora, naquele outro caminho mais extenso que você deixou de fora. Retorne, volte e dessa vez, escolha o caminho menos percorrido - Volte para mata, peça licença a Jurema quando pisar na floresta, e entre no Reino das Folhas, as Cidades encantadas das princesas, e dos príncipes do vegetal – Sobonirê Mafá - e reconheça os ensinamentos das folhas de Osanha e peça para o Grande Professor, Senhor Oxossi, lhe ensinar a acertar 3 dragões com uma flecha só, depois que você vivenciar tudo isso e aprender direito a como colocar isso em prática na sua vida, só depois – retorne aqui e aprenda o que é sabedoria.

Arlequim, ainda meio confuso, agradeceu e respeitosamente seguiu as instruções do Rei Salomão e voltou ao ponto inicial, e trilhou pelo outro caminho menos percorrido, que o levava a mata, que o faria entrar na floresta...

*Okê Arô!*

segunda-feira, março 04, 2024

Arlequim e o Pai Criador

Nosso Arlequim, Palhaço Cósmico estava em busca do Pai, e mergulhou em suas viagens pelo Reino de Copas para se preparar para estar flexível o suficiente para essa jornada e assim, ele buscou, andou, caminhou, caminhou, aí como ele caminhou, e foi até que encontrou uma flor. Não entendeu, não compreendeu e daí, ele observou e sentiu – *Matnis* – estava diante do Criador em sua criação.

Não era o espaço infinito, nem era um prédio de mil andares, não era um sol dando luz, calor e vida para uma galáxia inteira, era uma Flor... 🌸

E de todas as possibilidades possíveis, *O Criador criou a Flor*.

Que perfeição, que beleza em cada pétala havia detalhes quânticos; no caule a sustentação do mundo todo de uma flor e no perfume, a fragrância do Primeiro Amor. 

Perfeita.
Perfeito!

Como conseguiu se concentrar?

Como conseguiu formar a flor, tendo à disposição milhares de outras ideias?
Como conseguiu dedicar tanto carinho e perfeição para a flor, e também para aquela estrela, que Ele acabou de fazer nascer?

Ele é o cara!
Porque entre a criação de uma estrela e a formação da flor, Ele ainda olha e sorri para nosso Palhaço Cósmico.
O Rei da concentração e da criação.

Entre tudo aquilo que Ele tem para fazer, ainda arruma tempo para falar com nosso andarilho.
Não diz nada e fala tudo.
Sorriso! Existe comunicação mais exata?

Se o sorriso fosse um número, seria infinito...

Nosso Arlequim queria ter escrito algo quando O viu, mas, naquele momento em que mais precisou, não havia caneta nem papel com ele. Precisava?

Por que será que, nos momentos mais belos das nossas vidas, não carregamos com a gente uma máquina fotográfica, um gravador ou uma caneta? Piada divina! Nosso Palhaço riu sozinho, se dando conta que o *Pai realmente é o cara!*

E, quem era nosso Arlequim?

De todas as possibilidades, ele escolheu criar quem ele era.
Como conseguiu se concentrar?
Como conseguiu formar seu caráter, tendo à disposição milhares de outros personagens?
Da mesma forma que Deus criou a flor: *Foco*!

Contudo, entre trancos, vidas e barrancos - todos sabem - é difícil manter o foco.

Impossível se concentrar. 

Será?

Temos todas as possibilidades de nos tornarmos quem quisermos...

Ou fazer se tornar realidade todos os sonhos possíveis.
Mas por que demoramos tanto?

Ou por que, às vezes, temos a impressão de que nunca chegaremos lá?

Ora, porque Falta de foco!

Por isso não somos o cara!

Não dedicamos carinho aos nossos projetos. 
Falta amor e dedicação.
Por isso nossas vidas são imperfeitas.
Não estamos trabalhando com aquilo com que viemos aqui para fazer, pois perdemos o foco.
E se, em lugar de todo aquele tempo gasto com picuinhas, tivéssemos nos dedicado totalmente ao grande projeto das nossas vidas?
Onde estaríamos agora?
Será que já não teríamos criado a nossa Flor?

Arlequim havia encontrado o Pai e com muito respeito, carinho e gratidão, O saudou e se despediu, mas antes, fazendo suas arlequices, decidiu fazer uma pergunta e pediu permissão com o olhar, O Pai respondeu com um “Jóinha”! 👍🏽

Nosso Palhaço Cósmico, então, perguntou:

- Pai, quem veio antes? O Senhor ou Mamãe?

E O Pai respondeu:

“Não existe Pai sem a Mãe, Arlequim
Muitas são as danças sexuais entre a multidiversidade dos gêneros em todas as Casas da Manifestação da Consciência, porém, o princípio Criador é único: *Feminino*.
Antes do Big Bang, havia o Útero Divino da Mãe cujo líquido derramou amor por todo o vazio manjedouro, cujo alimento é a experiência de cada ser vivo. A experiência de cada um de vocês é o que mantém o universo real para todos – O Filho. Esse é o poder da Tríade Sagrada. Meu trabalho é esculpir a matéria prima da Mãe e as experiências dos Filhos e lhes entregar essa Flor”

E foi assim que nosso Arlequim, se tornou o Poeta da Flor.

 
*MATNIS*

Pedido de Intercessão


Se vê um velhinho no caminho, toma abençoa 
Toma a benção 
Adorei as Almas Benditas
Oh Pai Curador 
Atotô Obaluaê 
Atotô Meu Pai

Eu tomo a benção 
E na bem dição 
Benzendo vou com as minhas palavras 
Espadas 
♠️
Todas as direções 
Em nome desse Pai Curador 
Que nos envolve com seu véu de amor ❤️ e nos ajuda a construir ♣️ nossa proteção.
Que o meu servir, o meu ouro ♦️ essa noite, Atotô seja para pedir acalento 
Cura
E proteção a todos os nossos irmãos brasileiros 
Que enfrentam essa chaga
Trazida por esse bichinho 
Que também é Natureza, meu Pai
Eu sei
Eu sinto
Matnis
Mas se eu puder, Papai 
Com a ajuda da Mãe Divina
Senhora Oxum e Vovó Nanã 
Com a benção de Yemanja 
Odoyá 
Auxilia Oyá a espalhar pelos quatro cantos desse nosso país 
Os Ventos da Proteção 
Pai
Afastai de nossas crianças 
De nossos idosos 
De nós
Essa doença 
E traga para aqueles que a enfrentam toda a firmeza das rochas do Pai Xangô 
E que as ervas 
A Medicina de Pai Oxossi e de Ossanha possa levar a cura para seus lares.
🎋🌻🪷🪶

Nessa Egrégora da Flor 
Do nosso Poeta Arlequim 
Portal aberto Para seu Jardim de Flores, Pai
Eu Decreto aqui
*Pedido de Intercessão* 
Em nome das famílias que sofrem com essa doença 
Que elas possam receber todo o amor, carinho e firmeza para passarem por essa nuvem e respirarem a paz de Oxalá, trazendo harmonia e saúde para seus lares. 

Peço, Pai
Na permissão dada a mim
Como Professô de Matnis
E contador de casos do nosso Arlequim
Intercessão em nome de tudo que é mais sagrado
Com a sua permissão, Pai Obaluaê
Atotô
Pedido a sua bênção 
Meu Bom Velhinho
Atotô
Atotô
Assim é, assim foi e assim será 
Amém 
🙏🏽

sexta-feira, março 01, 2024

O Arlequim e a Vó

Vou compartilhar com você um segredo, mas é preciso que você me prometa que ele só vai ficar entre a gente, pois tem pessoa, nesse mundo, que se assusta fácil e se não escutar ou ler sobre esse segredo direito, pode até achar que a visão que eu tive é obra do "coisa-ruim"; e por mais medo que eu tive, e tive muito medo, tudo do que eu me recordo é o que eu vou lhe contar agora: Eu vi a "Mãe Velha"!

Ela se revelou para mim e se eu ainda consigo lembrar disso, deve ser porque ela me deixou, ao menos, manter parte da lembrança e alguns presentes; se bem que essa memória pode ter sido distorcida por símbolos antigos inebriados pela minha fé em qualquer coisa; daí, já de início, fica o meu sincero pedido de desculpas, se por alguma aventura, você for conduzido a acreditar em algo do que eu acredito; a minha esperança é que você, leitor seletivo e inteligente, possa usar o seu discernimento para ir além dos meus escritos, ler nas entrelinhas o que se está sendo dito e os revista com os seus próprios símbolos, porém, peço que mantenha, ao menos, o respeito pela ideia original, o encontro com esse arquétipo da "Mãe Velha", a Vó, a Preta-Véia, Mata Kali Jai Mata, Nanâ Buroquê, seja qual for o nome que você dê...

Eu, talvez em voo, talvez em sonho, lembro ainda que a minha consciência escapuliu da minha mente e foi parar bem distante, no meio de uma floresta, dei de cara com uma cabana de madeira, donde uma fumaça saia da chaminé, e os cheiros das folhas da mata se misturavam com um cheiro de café. O cheiro de algo tão forte me deu conta que eu não estava pelado de corpo, e logo em seguida, o som das folhas sendo pisadas, denunciava que eu estava vestido com alguma espécie de corpo, que me permitia também ouvir o canto das cigarras, os grilos e o piado da "Mãe da Noite", um pássaro do cerrado brasileiro com fama de bruxa. Confesso que fiquei com medo, deu vontade de correr; mas ao mesmo tempo, lembrei que tinha ido parar naquelas bandas por algum motivo; daí, criei coragem e bati na porta, e a porta rangente se abriu e vi, lá dentro, sentada, uma velhinha, cujos cabelos prateados se derramavam de sua cabeça e se espalhavam pelo chão, e ao chegarem no chão, os fios de cabelo se transformavam em raízes que entravam pelas frestas do assoalho de madeira. Sentada numa cadeira-de-balanço, ela balançava para aqui e paraculá, e a cadeira cantava, nhã iá-nhã iá sem parar, sustentando o peso dessa senhora que era do tamanho do mundo. 

Vestida num belo tecido cor de rosa brilhante, ela tinha nos cabelos, uma tiara de diamantes, mas seus pés estavam descalços e sujos de lama; e em suas mãos, ela tecia uma malha com duas agulhas de tricô, enquanto seus óculos caiam eternamente pelo seu nariz, porém, acima deles, havia um par de olhos brancos, cegos como um caminho coberto de névoa e neve.

- Olá! - ela disse, daí, senti vergonha de lhe estar olhando, mas ainda deu tempo de observar no seu rosto as rugas do tempo que pareciam contar a origem das estrelas e as experiências das Terras todas em uma só face.

- Oi! - respondi, sem saber o que dizer, nem como reagir, daí, notei que os seus olhos brancos tomaram cor, e em cada um deles, havia uma banda de uma lua que ficava cheia quando ela sorria, e ela sorria muito. E cada vez que ela piscava, um pássaro lá fora, gritava: Salubá! Salubá!

Eu quis logo me ajoelhar; ela acenou que não; ela disse que existe uma diferença entre respeito e submissão; que um viajante deve aprender a se ajoelhar com o coração, não com os joelhos, para poder pisar em todo lugar; daí, em algum ponto aonde corre a nascente da minha intuição e quem eu sou, eu ouvi ela me contando a história do mundo em que vivemos; e vi uma fila de espíritos esperando ela tecer a malha da matéria que eles usariam na Terra.

Ela me contou outras tantas coisas, mas disse que tudo aquilo só faria sentido lá naquela cabana, pois tão logo, eu saísse dali, toda aquela conversa viraria pó de lembrança como o corpo que se desfaz ao fim da nossa existência no mundo da matéria. Sal da Terra. 

Perguntei se poderia guardar, pelo menos, a recordação de tê-la visitado; ela riu e sua gargalhada tinha o som de uma queda d'água batendo nas pedras do rio, e disse:

- Você não veio me visitar, eu é que estou te visitando! Você vai esquecer boa parte daquilo que estamos conversando, mas à medida que você for trilhando o seu caminho, o que eu te disse, vai intuir em você, como chuva caindo...eu vim te visitar para te entregar dois presentes que você pode levar: esse bocadinho de sal e um cadinho de canela. Receba e guarde com carinho no seu alforje para que esse sal e essa canela também voltem com a sua consciência na vigília. Junto com ele, te dou também um cadinho de canela, sopre o sal e a canela, mas não é somente para você. Todo presente que a Vó te dá é para o mundo. O sal é para ajudar seus amigos e a canela é para que sua casa tenha sempre o axé dos Avós, mas antes de espalhar a canela pelos quatro cantos da sua casa, ofereça o Sal da Vó para aquela menina, filha de Oyá, que pegou a peste do mosquito, as outras duas com gente doente em sua família e que mesmo assim, honram seus compromissos; aquela outra com aquela dor que está sempre lá, a outra que não dorme; ainda tem aqueles dois, que precisam se firmar; aquela que precisa aprender o tempo de ensinar; a outra que está aprendendo a se expressar; uma outra que está aprendendo a reconhecer que a sua arte é como a cachoeira de Oxum, e a lista continua pelo seu grupo de amigos lindos que tanto aprendem com você, meu querido neto, meu lindo Arlequim.

- Obrigado, Vovó! Eu vou soprar seu sal para todas essas pessoas amigas e a canela em meu lar.

Daí, caí ou levantei do meu sono, lembrando que eu jamais poderia esquecer aquele encontro, afinal, eu trouxe comigo algo desse sonho: a malha da "Mãe Velha" nesse corpo que estou vestindo, a canela para fortalecer a minha casa e esse sal que eu vou soprar para cada um de vocês, sob a benção de Nanã. 

Saluba 
Matnis

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