quinta-feira, fevereiro 29, 2024

O Arlequim e A Mulambo

Nosso Arlequim, andarilho da vida, continuava descobrindo tudo aquilo que a jornada lhe trazia. Algumas frutas doces, outras verduras amargas, mas só bem lhe fazia, pois ele sentia que quando menos atrapalhava o processo da experiência com expectativas, mas ele se surpreendia com os presentes do Jardim da Mãe Divina. 

Na idade, das explorações do Sentir, foi convidado por seu melhor amigo Pierrot, um sujeito triste e meio melancólico, mas sincero e leal, para conhecer as delícias do Carnaval e os mistérios das luzes vermelhas. 

Respeitoso diante do poder que sentia percorrer o seu corpo pelas belas mulheres, Arlequim era um tanto receoso, mas sentia enorme atração para aprender mais sobre aquele ministério de deixar fluir a energia que parecia serpentear seu corpo, em momentos inusitados, em instantes sedutores. 

Já havia provado um tanto disso com Colombina e se frustrado, agora, em plena folia das ruas, estava naquela casa onde mulheres das mais diversas formas e perfumes, exalavam seu charme para aqueles homens com moedas em seus alforjes, mas que não passavam de meninos, diante do poder feminino. 

Pierrot afirmava que aquele lugar daria a Arlequim, a mais profunda iniciação ao Prazer, e Arlequim confiava no amigo para tal sugestão, mas sentia que embora não houvesse preconceito com a mais antiga das profissões, não era assim, que ele desejava ser iniciado e descobrir as chaves daquela ferramenta. 

- Agradeço ao seu convite, caro amigo, mas prefiro não prosseguir – disse Arlequim que recebeu de Pierrot nenhuma objeção. 

Pierrot era amigo, sabia que quando um amigo dizia não para ele, treinava o sim para si mesmo.

Talvez, Arlequim tenha sido o primeiro menino a entrar naquela casa vermelha sem ter provado dos sabores que a casa oferecia, mas com certeza, foi o primeiro homem a sair dela, confiante que não seria ali, que ele teria contato com a magia do toque e a expansão do cume do gozo.

Caminhando nas ruas, Arlequim se juntou aos cortejos de Carnaval, dançou com os foliões, cantou os mais divertidos refrões, e se uniu as marchinhas, confetes e purpurina pelo ar, naquela festa do povo que libertava aquela gente da pressão do coletivo e rompia o status quo. 

Foi ao passar por uma encruzilhada, em meio aos tambores e cornetas, que ele sentiu uma doce fragrância de lavanda encantar o seu olfato. 

Perfume que o envolveu e o fez dançar na encruzilhada, fazendo-o lembrar de um certo encontro de outrora, mas a lembrança se desfez, quando ele percebeu surgir na penumbra, fios de tecidos que pareciam trapos, que dançaram juntos com ele, como se tivesse vida própria, ou era apenas o vento, mas naquele exato instante, dentro daquele tempo, Arlequim sentiu um leve toque, talvez fosse novamente o vento, mas Arlequim se deixou levar por aquele quase carinho, percorrendo a sua pele. Carinho que acordava todos os seus pelos, fazendo vibrar cada molécula, fazendo cócegas em cada átomo. Os toques continuavam em lugares diferentes do seu corpo, cada lugar que era acordado por aqueles dedos do vento, despertando novamente memórias de outrora, liberando medos, curando dores, até que nosso Arlequim viu aquela Mulher vestida de vermelho e negro se aproximando, com farrapos cobrindo as curvas de seu corpo, os mesmos farrapos que ele havia visto, e que pareciam ser tecidos rasgados, mas ao mesmo tempo, lembrava as sedas mais deslumbrantes que ele já havia visto. 

- *Boa noite, Palhaço do Sentir, bem-vindo a minha corte. Eu sou a Nossa Senhora da Rua, a encruzilhada é o meu Reino.*

Arlequim saudou a moça bonita, que trazia no chapéu branco, uma rosa vermelha, bem parecida com a rosa que ele carregava em seu peito, e na mão direita uma taça de champagne, cujo líquido dourado parecia ser feito de estrelas e brilho da lua crescente. Ela lhe ofereceu sua bebida e avisou:

- *Tome da minha bebida. Sinta em sua boca, receba em sua língua, o doce sabor das copas, mas saboreie com calma, deixe que seu corpo sinta com leveza o prazer dessas gotas se derramando, se juntando com cada parte do ser. Esse é o meu beijo.*

Arlequim sentiu a taça em seus lábios explodindo em mil desejos ainda não saciados. A bebida parecia ser a própria vida que lhe adentrava, borbulhante, gelada em substância e quente em sensações.

Aquela bebida era o Santo Graal da sua criatividade, trazendo mil ideias, mil projetos pedindo passagem, estórias sendo contatas, pétalas de lótus se abrindo.

- *Dance comigo, meu Arlequim, mas sem me tocar, apenas sinta meu movimento, como se você sentisse os raios da manhã tocando a sua pele. Esse é o meu toque. Essa é a minha oferenda.*

Arlequim dançou com a Senhora da Noite como se aquela fosse a Dança do Dia que nasce, despertando a sua vontade de viajar pelos quatro cantos da Terra, manifestar realidades, construir mundos, servir a humanidade com a sua arte. 

Cada movimento em compasso com a Mulher dos Mistérios, era uma Gira da Realidade, onde tudo poderia ser possível, sob o poder da liberdade.

Naquele momento, ele aprendia uma nova alquimia, a magia do receber, e por um momento, ele quis retribuir, entregar a rosa vermelha que ele também carregava em seu peito e entregar para a Senhora da Sedução em gratidão, mas ela disse: 

- *Não!*

E ele entendeu, SENTIU, que a Dança do Prazer que recebia era uma oferenda e como tal, a sua única atitude era receber com respeito, gratidão e reverência. E assim o fez, nosso Arlequim, sorriu de agradecimento e ajoelhado recitou uma poesia...

_“Nossa Senhor da Rua,_ 
_Mulher de Todas as vidas,_
_Feminino Sagrado;_
_Agradeço por essa ferramenta recebida, pela lição aprendida, por todo esse carinho, por esse agrado.”_

O vento então trouxe a névoa que cobriu a Divina Mulher em brumas e quando o mesmo vento se dissipou, nosso Palhaço Andarilho viu apenas os tecidos que pareciam trapos no meio da encruzilhada e se lembrou...se lembrou... que ruínas já foram castelos; os mulambos, os farrapos, os trapos eram tudo aquilo que pode ser esquecido pele tecido do tempo, mas sempre será lembrado: *respeito pelo que se recebe na carne, na pele, no coração, na mente e na vida.*

_O respeito é o prazer de ser grato pelo carinho que nos foi e é oferecido._

*Matnis*

Arlequim e a Casa das Mil Personas

Arlequim bateu na porta da Casa das Mil Personas, foi atendido por ele mesmo, a *Persona Servidora*.

Depois de bem alocado, sentado no sofá e olhando os quadros na parede que pareciam ser fotos suas de outras épocas, notou o vai e vem de muitos outros Eles, mas permaneceu aguardando, afinal, ele estava aprendendo, quando as coisas mais estranhas aparecem, é preciso observar, sentir e aprender. Não demorou muito, e nosso Palhaço Cósmico viu uma versão dele, vestido de terno e gravata, descendo pela escada, e vindo na direção dele.

- Seja bem-vindo – disse aquele outro Arlequim, que não parecia mais novo, nem mais velho que ele, mas tinha um olhar de autoridade e uma pose de que ele só poderia ser a *Persona Gerente*, aquele que organizava e administrava aquela Casa das Mil Personas. – Vou te apresentar nossa casa.
-
E Arlequim foi seguindo o Gerente por aquela casa tão bela e tão estranha, casa que parecia ser desconhecida e um tanto familiar. 

- Recebemos a todos, nessa Casa das Mil Personas, não temos preconceitos com as novas Personas que vão chegando, nem excluímos as Personas que já não atuam mais – disse o Gerente – Veja, aqui é o quarto das Personas da Infância, são muitas, mas a principal é a *Persona da Criança Faladora*, foi ela que ancorou nossa primeira comunicação com o mundo e conseguiu juntar tudo o que aprendeu ouvindo, com tudo que aprendeu testando e fortaleceu a nossa consciência quando disse nosso primeiro *“não”*. Logo ali, no outro quarto, tem as *Personas Manipuladoras, as Personas Violentas, as Personas Choronas* e outras tantas que preciso manter um olhar mais vigilante, pois elas podem te atrapalhar com as coisas lá de fora. 

E nosso Arlequim foi seguindo pela casa, vendo milhares faces dele, as tantas mil Personas que ele sabia, sentia, já havia tomado conta dele, ainda tomava, entidades do astral interno que o incorporava sem que ele soubesse.
A Casa era gigante e os quartos pareciam infinitos, e ao perceber isso, nosso Arlequim perguntou ao Gerente:

- Cabe tudo isso dentro de mim?

- Cabe muito mais, essa é a apenas a Casa das Mil Personas; quando você estiver preparado, poderá conhecer as casas vizinhas e descobrirá que somos mais que um bairro, muito além de uma cidade, tudo dentro.

- E como o senhor administra tudo isso?

- Essa é a função do Gerente, quando fui criado por você e pelo mundo, aprendi a desempenhar a minha função. Então, gerencio qual Persona toma de conta de acordo com a ocasião e com a ajuda das *Personas Vigias*, mantemos a ordem e não deixamos nenhuma Persona tomar o controle. Algumas Personas tentam tomar o poder e ficar mais tempo do que poderiam; algumas até tentaram controlar tudo. E temos que colocá-las no lugar delas, em seus quartos. Mas sem punição, deixamos que elas acreditem que possam ter o seu poder. Temos nossos meios de gerencia-las. 

- Mas... o controle lá fora é meu, certo? – perguntou o Arlequim.

O Gerente sorriu... e respondeu:
...

terça-feira, fevereiro 27, 2024

O Arlequim e a Senhora dos Ventos


O menino Arlequim já não é biologicamente tão menino assim, está mais para homem, mas as dores da infância ainda estão latentes e apesar do dente de leite já ter desleitado, um novo dente, dente-pedra-casadosavós - precisa nascer e ocupar seu devido lugar no Sorriso de nosso Palhaço Cósmico. 

Adolescentar é SENTIR na matéria todos os fluídos e mudanças do Reino de Copas sem a inocência da infância e ainda sem a maturidade de ser adulto. Tudo é confuso, porque dentro é uma confusão.

Nosso Arlequim adolescente não poderia ser diferente, mesmo conectado e tendo flashes de lembranças, volta e meia, meia e volta, lá estava ele, sendo jogado pelas ondas químicas que refletiam as ondas experiências fora e qual onda é a mais arrebatadora para o nosso Adolescente do Riso --- a mesma que foi para cada um de vocês nessa fase: a paixão!

Quando Colombina apareceu pela primeira vez, ela tinha a forma de uma linda morena, esperta, inteligente que olhava qualquer OUTRO adolescente que fosse diferente de nosso Arlequim que era um teen bem diferente, daqueles que não cabem nos grupos dessa fase, aqueles que só aceitam quem se veste e age como tribo, Arlequim não conseguia se passar por qualquer outra coisa se não por si mesmo. Gostava das músicas porque as canções eram belas e ele as amava e não porque todos escutavam. Se vestia da forma como se sentia bem e não porque era moda ou mais aceita. Então, nosso Arlequim sofreu MUITO porque embora a fase pedisse sua integração a um certo grupo de mesmos gostos e mesmos interesses, Arlequim parecia não pertencer a nenhum deles, e Colombina era COMPLETAMENTE DIFERENTE - a mais popular, ela era a mais bonita, mais aceita, mas desejada, porém, o que fez Arlequim se apaixonar por Colombina era porque ela era uma artista. 

Certo dia, Arlequim foi ajudar Colombina a estudar para uma prova e ao entrar na casa dela, nosso Palhaço Cósmico SE ENCANTOU porque viu toda a arte que ela produzia, desenhos lindos, esculturas maravilhosas e todas aquelas formas feitas pelas mãos daquela menina - isso tudo despertou em nosso Palhaço, um grande fascínio que foi seguido por uma grande atração – PAIXÃO - mas também decepção quando ele ouviu de Colombina que não era para contar para ninguém sobre a arte que ela fazia.

- Por que não? – perguntou Arlequim – É tudo muito lindo.
- Não! Não quero que ninguém saiba. A turma da escola vai me zoar e achar que sou alguma nerd, alguma maluca,... alguém como ...você... não! Não quero que ninguém saiba que eu faço isso.

Arlequim sentiu – MATNIS- nunca contou, mas seu coração queria gritar para Colombina que ele queria ser uma peça de arte nas mãos dela. Mil fantasias, desejos e anseios o levou a declarar a sua paixão, prematuramente descrita como amor e ela o rejeitou. 

Ahhh...dor!!!

As dores do primeiro coração partido o derrubaram mais que a separação dos seus pais... as mesmas ondas que o levaram a sonhar com aquela linda moça, destruíam seus castelos de desejo, seus sonhos a dois, seus anseios e Arlequim diante de tamanha dor, quanto dormia, entrava em regiões escuras que o afastavam das vibrações de Obá, quando acordava, ele só queria fugir, escapar daquelas emoções, sentimentos perversos que o jogavam para as lágrimas, que o derrubavam nos buracos mais escuros, e foi aí nesse momento, que alguns conhecidos, nunca amigos, o convidaram para uma festa, e nessa festa, havia bebidas, havia drogas, havia fugas mágicas da dor que lhe foram oferecidas e nosso Arlequim se viu num momento de escolha: a dor ou o alívio?

Hum...

Ah... Reino de Copas com suas águas que acalmam e com tempestades que tormentam. Nesse momento, ecos de Obá intercederam e Arlequim foi envolto pelo vento que num espiral de tempo e espaço, o levaram entre um segundo e outro para a presença de um redemoinho. Em meio ao vento, ele viu um Buffalo Negro se aproximando e o som que ele fazia, era como se mil tambores soassem e no céu, mil raios e trovões anunciavam a chegada de Oyá que surgiu que rompeu a imensidão para se manifestar mulher poderosa em frente ao nosso Palhaço Cósmico que a saudou, a Parte que Sabe silenciou em reverência. 

- Senhora do Vento, eu a saúdo!
"Palhaço do Amor, eu te abençoo e te alerto: não fuja da dor da rejeição, não escape da dor de não ter controle sobre o outro, você nunca terá, jamais! O Amor só ocorre na junção de dois querer, nunca no desejo de só um pertencer. Ninguém é rejeitado quando se sabe o valor que tem. Nenhum coração é partido quando alguém conhece a beleza de seu próprio coração. Não se confunda com a mente, ela é ferramenta,OBSERVE! Não se confunda com as emoções, elas são correntes dos fluídos do Reino de Copas, SINTA! Emoção não é sentimento, paixão não é amor. O Tempo vai te mostrar que quando sua Arlequina estiver pronta para te amar, você estará pronto também para a libertar da sua pressa, seu relógio, sua gaiola que quer o canto de um pássaro só para si. Sinta! Mas não escape, não fuja por caminhos que vão te afastar da sua PRESENÇA e da LEMBRANÇA de quem é.”

-Eparrei, Mamãe!

- Matnis, meu filho!!!

segunda-feira, fevereiro 26, 2024

O Arlequim e o Reino de Copas

É noite serena de lua cheia e nosso Arlequim sai da cama com o seu barquinho astral. É madrugada de pescaria, por isso ele preparou os instrumentos, ajustou seu barco e saiu do Porto Beta, seguindo rumo ao Mar Alfa, navegando nas ondas cerebrais.

Nosso Arlequim ainda é criança, mas quando dorme, ele se lembra, lembra quem é, Obá Obá Obá! *Salve o Divino Lembrar - Viva a Parte que Sabe*

As águas estão agitadas e o seu barco parece estar furado, mas não é água que entra, é lucidez que sai. Ele ergue as velas da luz que ecoam Om, Om, Om e segue tapando os buracos da consciência que escapa. Está aprendendo ainda a ser marinheiro da experiência e é com muita paciência que vai cobrindo furo por furo e mantendo-se desperto nesse mar da inconsciência.

Com firmeza no leme, concentra a sua atenção nas ondas à frente, ignorando o que vê ao lado. Com o canto do olho esquerdo, vê sereias, terras prometidas, lindas donzelas e outros tantos tesouros escondidos. Com o canto do olho direito, vê monstros, peixes gigantes, dragões de sete cabeças e todo tipo de horror que o repulsa e atrai. Contudo, resiste a tentação de dialogar com essas seduções e segue fortalecendo o seu barquinho que avança cada vez mais pelas ondas desse mar de ilusões, oceano com seus significados dos mais variados, e à medida que prossegue, percebe que as visões que as ondas carregam se dissolvem nas mais intensas cores, e já não está navegando num mar bravio, barqueia por um mar colorido. 

Cada onda representa uma mensagem, formando um arco-íris marítimo das lições do Divino. Para navegar por esse arco-íris aprendeu faz pouco tempo, que é preciso usar a bússola do amor e o remo da força de vontade para trabalhar.

Pescador, oferece como isca a boa sintonia e o mar reage, oferecendo-lhe peixe-dourado, peixe-firmeza, peixe-espada, peixe-harmonia e peixe-palhaço, pois pescaria divina sem alegria é totalmente sem graça. Com o barco cheio, antes que retorne ao Porto da Vigília, agradece a Janaina, Rainha do Mar e das Ondas Mentais, por ter entrado em suas águas e não ter naufragado pescando o que parecia ser peixe, mas não passava de pneu furado. Odoyá sorri e canta uma melodia que diz algo assim:

“Volte para o seu mundo, meu Pescador do Amor, e compartilhe esses peixes dourados do mar do arco-íris com todos que tiverem olhos para te ler e discernimento para compreender que somente com o barco da sintonia fina e sutil, os marinheiros da projeção da flor conseguirão entrar no mar do primeiro voo com a Mãe Divina e perceber que esse mar do amor cada um carrega dentro de si, durante todos os dias, O Reino de Copas se faz presente em tudo aquilo que se sente. Tudo que está em cima, está também embaixo; tudo que se encontra dentro, também se apresenta fora. Observa, SENTE e manifesta a sua experiência”.

- Como me lembrar lá no corpo, Mamãe?

“Matnis, filho, Matnis!”

sábado, fevereiro 24, 2024

Tem Dias

TEM DIAS...

Tem Dia
Tem Um Dia
Em que você acorda 
Desperta 
E percebe que você não é o outro 
Ou as coisas 
E para de dar importância 
A tudo aquilo 
Para qual
Pelo qual 
Onde qual
Qual Qual
Você viveu por...

Pô, mano! Que tempo perdido 
Para você 
Pois...
Para os Outros 
E para Todas as Coisas 
Importou 
Porta adentrou 
Entrou 
E entrou de tamanha profundidade que os Outros se esqueceram 
E isso é normal com todas as coisas 
Que continuam 
Sempre continuarão 
Independentemente 
Do motor que colocou as coisas 
E os Outros a continuarem 
Até o fim
Enfim...

Voltando ao Dia
Tem dias 
Tem dias
Em que a gente desperta 
Acorda 
E percebe que você não é os outros
As coisas 
E daí... 
Eureka
Só sobra Você!!!

Você!!! 
Você é todas as coisas (e os outros juntos)
Mas 
Mas...
Sem se esquecer de você 
Pois
Quando você para
E repara 
Em você 
Uauuu
Que coisa linda 
E que coisa medonha 
Você é...
Sem os Outros 
Sem Todas as Coisas 

Só 

O que sobra de você?
Ora sobra! 
E sobra muito!

E sobrando muito 
Você começa a se importar 
Com...
A sua Saúde 
O seu Conhecimento 
As suas experiências 
E Shazam!!!!
Vem todas as forças dos Deuses do Olimpo e de Aruanda 
Para te mostrar 
Que você é NADA
Haha
Mas...
Sendo NADA
Cabe todos os outros 
E todas as coisas 
Se você não se esquecer 
De 
Você
Professor Frank
🙏🏽
Sintam o Matnis 
♠️♦️♣️❤️

sexta-feira, fevereiro 23, 2024

O Menino Arlequim


O Menino Arlequim se tornou filho, cuidado, nutrido, amado, querido e foi crescendo como *Filho*.

Em princípio, Arlequim era parte de tudo. Não havia separação entre ele e o Todo. Tudo era Arlequim.

Como qualquer criança, Ser Filho é Ser Um com Deus e com Tudo e Tudo fazia parte dele, e ainda faz parte de nós, mas a gente se esqueceu...Arlequim vem lembrar.

Como *Filho*, Arlequim recebeu nome, nacionalidade, religião, status social, até um time...embora o Menino Arlequim não gostasse de futebol e nem de rezar, pois brincar para ele era qualquer brincadeira, orar para ele era respirar, pois estava totalmente *religado* com tudo e todos, mas...

Sempre tem um mas...

Faz parte da vida, termos um *Sgundo Parto*. Se cortaram nosso Cordão Umbilical com a nossa mãe, o mundo, fora do Útero, também corta o nosso Cordão Sagrado e UNO com Deus, e no lugar recebemos um *Ego* que vai sendo construído, lapidado, formatado pelas crenças e conceitos e leis do mundo manifestado. Foi assim com cada um de nós, também foi assim com Arlequim.

Mas nosso Palhaço Cósmico, ainda Menino, era um moleque diferente. Quando diziam que ele não era o Céu, ele se disfarçava de nuvens; quando diziam que ele não era a Chuva, ele dançava com as poças d'água; quando diziam que ele não era o Sol, a Lua e as Estrelas, aí é que nosso Arlequim se mascarava 🎭 de Natureza e já no prezinho, reunia a molecada com as suas encenações criativas e fantásticas. O Teatro Sagrado já dava sinais que Arlequim seria um Médium dos Sorrisos de sua plateia de amigos. 

Arlequim seguiu assim, sendo Menino e Menino, era um Filho amoroso e feliz, recebendo a dádiva de poder crescer em um Lar Apropriado para as suas Arlequices, mas Arlequim ainda era uma criança quando sentiu o outro lado do Teatro da Vida... seus pais iriam se separar...

((()))

Entre um momento e outro
O bebê se torna criança 
A criança se torna menino
O menino aprende sobre a Dualidade desse plano
Que ele É tudo
Mas precisa também 
Por um tempo
Estar separado 
Conta-se que foi assim
Que Arlequim aprendeu que seus pais seriam sempre seus pais
Mesmos que não estivessem juntos 
Ele seria sempre filho 
Pois Pai e Mãe nunca se separaram de seus meninos e meninas 
Ele sofreu 
Ele chorou 
Nosso Palhacinho Cósmico precisava aprender a Lição da Dor
E foi nesse interim 
Que nosso Menino aprendeu assim
E assim esteve com a sua Vovó que o levou para a sua casa
E na *Casa dos Avós*
Ele recebeu colo
Conselho 
E foi nutrido pelo saber antigo
Quando a Velha Nanã nas rugas de sua Vó
Lhe contou:

"O amor nunca se acaba 
Mas tão importante quanto a ciência de estar junto é a consciência de estar separado, e quem aprende da escola do relacionamento sabe, sente, Arlequim, meu neto, que se houver Maturidade, os Enamorados se separaram na amizade, honrando o Elo Sagrado do Filho gerido, da filha cuidada.
Eu sei que você está achando que a culpa é sua. Não é... você é a prova do amor dos seus pais...
O Amor nunca acaba, muda de forma, seus pais ainda se amam, mas decidiram por seguir, como casal, caminhos separados, rios que fluiam juntos, agora possuem leitos separados que se reencontram quando as correntes do Filho os une .
Meu netinho, veja, sinta, seu Avô há muito partiu, mas ele ainda está aqui comigo, em você, na minha história, sem ele, não haveria sua Mãe, nem você assim, bem palhacinho, que feito mosaico, tem partes minhas, dele e do seu Pai e da sua Mãe, e mesmo na minha ausência e na falta da presença dos dois juntos, eles são UM SÓ em você... o Amor Manifestado. Viu? Te falei, o Amor nunca acaba, pois o Amor continua em você. 
Tão logo, lá na frente, você também aprenderá sobre o Amor de Casais e sentirá que esse Amor só vale a pena, se permitir que sua futura amada possa permanecer ou partir. Amor só é Amar em Liberdade.
Se na Universidade do Amar
Você um dia se matricular 
Enxergue a Santa Parceria 
Sinta a Divindade de sua companheira 
E mesmo em meio a Grande Dor
Se ela ansiar por liberdade 
Se entregue com fervor 
A esse presente 
Que é deixar o Outro Partir
E ser feliz 
Mesmo que não esteja mais ao seu lado
Trilha enganosa é quem pensa que o Amor
É tesouro que se guarda 
Amar é Cachoeira de Oxum
Sempre seguindo 
Para além das margens"

Talvez, nosso Arlequim não tivesse ainda capacidade de entender as palavras sábias da Vovó, mas a *Parte que Sabe* que Obá lhe ofereceu recebeu aquela santa lição sobre o Amar e no tempo certo, no instante adequado, aquela lição o ajudaria a lembrar que não se separa de alguém somente na dor e na discórdia, também se separa em amor, quando se respeita a *Santa Escolha* que todos nós herdamos do Pai Criador e da Mãe Divina.

Depois, então, de escutar a sua Vó, Arlequim tomou seu chocolate quentinho, comeu seu bolo de cenoura com chocolate e olhou bem nos olhos dela e falou: 

- *Matnis*, Vovó

E ela respondeu: 

- Saluba, meu Neto!

O Arlequim e os Erês

Vão dizer que é estória, vão dizer que inventei, mas vi o Arlequim no berçário fazendo rir outros bebês. Ali, naquele lugar onde os recém-nascidos ficam esperando os parentes olharem pelo vidro quem é filho de quem; meninos, eu vi, meninas senti que na calada da noite, enquanto o hospital dormia, o Bebê Arlequim se juntou aos outros Curumins e começaram a cantar em bebêses e o canto entoava: Ibeji!!!!!!

Daí, pequenos redemoinhos de flores e bolhas de sabão surgiram do nada, juro, sei que foi assim, sinto que é assim, redemoinhos, crianças feitas de vento que se juntaram a festa e era um batuque gostoso vindo sabe lá de onde e para vocês não acharem que essas crianças estavam sem observação médica, surgiram três doutores da alegria: *Cosme, Damião e DoUm: os doutores da infância* abençoando nosso Arlequim. 

Também estavam por lá, o bebê Krishna, o neném Buda e o menino Jesus: amigos se reunindo no berçário do amor no brincar de se existir.

O portal da amizade estava aberto e os amigos, vocês sabem, formam a família que escolhemos por sintonia e afinidade. 

Numa ciranda de crianças, não há preconceito, não há discriminação por cor, sexo ou status social. Quando escolhemos um amigo para fazer parte de nossas cirandas de amizade, criamos uma relação de aprendizado de amor incondicional que vai se estender por toda a vida.

Uma rede de apoio que nos fortalecerá nos momentos de nossas vidas que as relações familiares sanguíneas passam por turbulências...

Nos instantes em que corações são quebrados quando nos iludimos em relações amorosas cheias de projeções e expectativas alheias ao nosso bem estar e bem querer...

Naqueles pontos da vida, onde nos esquecemos que lá no céu tem 3 estrelas, todas três em carrerinha: a gente, a família que nos escolheu e a família que escolhemos.

Nenhuma jornada começa sem Exu, mas jornada alguma fica sem Ibeji. E foi Orixá Ibeji que beijou a testa do nosso Arlequim e disse assim: *Matnis.*

O Arlequim e A Senhora dos Olhos D'água


Dizem que quando morremos, vemos toda a vida passar em nossa mente, como se fosse um filme de trás pra frente. O que não dizem é que quando estamos nascendo, também vemos nossa vida toda passar, mais de frente para trás, para o *esquecimento*. 

Havia um corredor por onde nosso Arlequim atravessava. Um corredor de águas doces que parecia uma onda circular que se fechava sob a sua cabeça e se encontrava sobre seus pés, lá no final do corredor, havia uma Mulher com os Olhos Gigantes que pareciam duas cachoeiras.

À medida que nosso Palhaço Cósmico atravessava esse corredor D'água, ele sabia que estava prestes a Renascer, ter uma nova chance de fazer tudo de novo direito. Então, ao tocar aquela cortina d'água, ele viu sua vida terminando e assistiu seus últimos dias; e o tempo rodava em reverso, de velhinho a adulto, de adulto a menino, de menino a criança e ao chegar no fim do corredor, ele já não andava, era um bebê que foi recebido e pego do chão do corredor por aquela Senhora das Águas Doces que olhou nos olhos do nosso Arlequim Bebê e disse, quase chorando:
*Matnis*

Nesse momento, o bebê sentiu e chorou neném mil ora iê iês. A Senhora dos Olhos D'água ninou nosso Arlequim com um amor tão profundo, aquele amor que faz florescer rosas, que abre  as folhas ao toque do orvallho, que faz girar os girassois 🌻.  

O Amor que une inimigos, o Amor que acaba guerras, o Amor que faz nascer as Samaúmas, O Amor que mantém a Terra Girando no vazio do espaço. O Amor que constrói famílias.

- Sinta, Arlequim - disse a Mãe da Fertilidade e da Abundância- Sinta!

E o Arlequim bebê lembrou da sua família de outra vida.  Sentiu todo o amor que o recebera. 

- Essa família antiga vai te receber novamente, meu filho! Nesse ciclo que vai se repetir para que você faça diferente. Vai para Terra, vai ser Palhaço da Alegria, Professor do Amor, mas não se esqueça jamais do amor da família que já te recebeu em outras vidas e te receberá novamente agora. E te lembra, essa família é sua âncora para que você não se afogue nas armadilhas da matéria e no karma da repetição.

Nesse momento, várias outras mulheres surgiram cantando:

_"Oxum Menina dos Olhos D'água_
_Oxum Menina dos Olhos D'água..."_

Eram as *Caboclas de Oxum*, às parteiras do entre-vidas que recebem de Oxum, os Viajantes das Estrelas do Astral e os entregam ao Reino de Copas - o Reino das Sensações - ❤️

E lá foram as Caboclas de Oxum levando o Bebê Arlequim para entregá-lo a sua Nova Antiga Família. E lá ficou Oxum e ficará sempre guiando o seu filho por toda a sua nova vida.

❤️♣️♦️♠️

Arlequim e Obá

Exu disse ao nosso Palhaço Cósmico, no meio da encruzilhada:

*- Você está livre DESSA encruzilhada, mas sua mochila vazia é o passaporte para novos erros e com certeza, novas encruzilhadas - A palavra virou crença, a espada feriu feriu, feriu, feriu e virou pedra !!! Será que não chegou o momento de rever as palavras, os comportamentos, as crenças? Será que não chegou o momento de Sentir? Água mole em pedra dura tanto bate até que fura !!! Sentir, se questionar e se abrir para a mudança pode ser um bom e novo caminho!!!*

De mochila vazia, Arlequim começou a esquecer e cada palavra esquecida, ele se sentia como se estivesse entrando num rio e indo cada vez mais fundo. 

Cada palavra esquecida trazia alívio e paz. E quase como se estivesse sendo Encantado por um canto de uma Sereia de Água Doce, nosso Palhaço Cósmico foi avançando e pouco a pouco, entrando no rio, até que as águas calmas começaram a ficar agitadas, revoltas, no céu cantava Oyá, no rio, surge *Obá*. 

- Palhaço Cósmico - pare agora de avançar!!! - disse a Iabá, despertando Arlequim de seu entorpecimento, que se deu conta que quase já não lembrava como fora parar ali.

- Senhora das águas turvas, me perdoe a ignorância, mas não me lembro muito bem como vim parar aqui.

- Você já esteve por aqui, Palhaço Sideral, e sempre optou por esquecer, dessa vez, quero te dar uma escolha, se assim desejar: *meu filho, você gostaria de seguir sua jornada e dessa vez, sem esquecer o que você precisa lembrar?*

- Será que eu consigo? As memórias são pesadas, as palavras dadas ficam presas nas rochas das promessas... veja minha mochila! Já não carrego as pedras.

- Tem Pedra que fere e machuca e tem Pedra que edifica nossos Templos Internos. A Pedra é a Casa dos seus Avós, de seus ancestrais, que manifesta a sua realidade. Ao querer esquecer suas palavras pela dor de carregá-las, você também esquece a sabedoria das runas de suas incontáveis vidas em toda a sua Sabedoria que Oxossi lhe deu em sua expansão. Ao mergulhar em meu rio, você vai mergulhar na retração, cuja benção ajuda a todos que passam por aqui a ter força e coragem para reiniciar suas jornadas sem a culpa, o remorso e a raiva. Porém, Arlequim, te pergunto novamente: *você já esqueceu tantas vezes, e se dessa vez, você reiniciar sua jornada lembrando?*

- Isso me parece ser uma experiência nova... algo que eu nunca fiz.

- É, *mas a escolha é sua.* se você aceitar, você vai atravessar o meu rio, com a cabeça erguida. Honrando cada palavra falada, saudando cada palavra recebida - a lembrança vai doer, a lembrança te fará chorar, porém a mesma lembrança vai através do tempo, suavizar e você sentirá que essa suavidade da memória, a ternura da lembrança é um *tipo de esquecimento*, o esquecimento de quem reencarna com a mochila vazia, sem *embrutecer* e vai reencontrando suas palavras à medida que for crescendo e cada palavra será espada livre das pedras que pesam mochilas. 

- O que preciso fazer?

- *Aceitar a lembrança e aprender a sentir.* Você aceita lembrar? Gostaria de Sentir? 

O nosso Palhaço Cósmico respirou fundo e diante daquele novo precipício e desafiadora jornada, saudou Obá:

- Obà Xiré, minha Mãe. Aceito a sua bênção da lembrança e seu Àṣẹ. 

Foi assim que o Arlequim aceitou reencarnar, aceitando a benção de Obá. Sim, ele não mais mergulharia no Rio do Esquecimento. 

Ele estava pronto para se lembrar...

*Matnis*

♠️❤️♦️♣️

O Arlequim e a Encruzilhada

O Arlequim, nosso Palhaço Cósmico, se viu numa encruzilhada. Sem saber por onde ir, sem saber como atravessar, cada caminho era uma palavra prometida que já não fazia mais sentido em sua vida (tudo muda, as pessoas mudam, as promessas murcham), porém, uma vez palavra dada, palavra vira corrente, promessa, que muitas vezes precisamos cumprir, mesmo que não faça mais sentido ou que fale ao coração. Porém, nosso Louco do Tarot, nosso Arlequim, que não é bobo, sabia que era *LIVRE* para decidir, contudo, sabia também que ao quebrar promessas, desfazer juramentos, não honrar a palavra dada poderia lhe conduzir a sérias consequências, daí, só lhe restou pedir ajuda a Exu, que veio ao seu socorro e surgiu soberano no meio da Encruzilhada, sentado em cima de uma Pimenteira. 

- *Diga lá, meu Palhaço, qual é a encrenca que a Palavra lhe prendeu?*

_- Laroyê, meu Guardião. Eu já não quero mais seguir naquele caminho ali da religião que prometi seguir, e também já não quero aquela carreira que a faculdade me fez trilhar, nem quero seguir nesse relacionamento que minha amada me fez votar, nem quero continuar sendo essa personalidade que me fizeram jurar ser porque era mais adequada para mim como homem... quero escapar dessa encruzilhada. Não sei o que quero, mas sei o que não mais quero. O que posso fazer?_

Exu riu e fumou o seu charuto, cuja fumaça fez desenhos de pontos de interrogação pelo ar e depois de tomar sua taça de vinho, exu falou:

(((?)))
_... Não sei o que quero, mas sei o que não mais quero. O que posso fazer?_

Perguntou o nosso Arlequim a Exu que riu e fumou o seu charuto, cuja fumaça fez desenhos de pontos de interrogação pelo ar, e depois de tomar sua taça de vinho, Exu falou:

*- Você já esteve aqui antes. O tempo é plano e circular. Acredita em outras vidas? Digamos que, uma vez, você já esteve aqui para fugir de suas responsabilidades, outra vez, você já esteve aqui por pura ingenuidade, uma certa vez, veio aqui por pura escuridão mesmo - mas não se julgue demais - todos possuem sua escuridão, sua maldade, sua falta de lealdade com a palavra - porém, poucos desejam se libertar de fato - olha você aqui!!!! Querendo se libertar de tudo isso, mas ciente que esta está em looping, revivendo esse ciclo sem parar e para escapar desse ciclo terrível de não saber qual caminho honrar, qual palavra seguir, só há uma saída...*

_- Qual seria?_

*- Te digo, mas antes pague meu preço*

_-E qual é o seu preço?_

*-Me entregue o que você você carrega em sua mochila*

Arlequim riu. Costumava carregar na mochila tanta coisa: promessas, juramentos, verdades, juras, votos, acordos, decretos, e tanta coisa que a palavra lhe fizera carregar. Ahhh...mas agora... sua mochila estava vazia.

*-Aqui está*

Disse o nosso Palhaço Cósmico entregando sua mochila vazia para Exu que riu mais alto ainda e de seu charuto saiu pontos de exclamação pelo ar ❗ ❗ 

*-Agora você pode tomar qualquer um dos caminhos que não vai mais repetir os mesmos erros que o levaram aqui.*

_-Isso quer dizer que consegui escapar da encruzilhada?_

*Eu não disse isso! Você está livre DESSA encruzilhada, mas sua mochila vazia é o passaporte para novos erros e com certeza, novas encruzilhadas. Até la, liberte sua espada da palavra dada aos outros e erga a sua espada para o seu Sentir*

Laroyê 
🔱

terça-feira, fevereiro 13, 2024

O Arlequim e a Rosa 🌹

Um dia, nosso Palhaço Cósmico tentou plantar uma roseira. Queria sentir surgir em seu jardim, uma rosa vermelha, mas nosso Arlequim era um péssimo jardineiro e não conseguiu fazer a roseira surgir.

Depois de tentar muitas vezes, ele decidiu que se não conseguia sentir sua rosa com matéria-física, ele faria com matéria-mente, e fechou seus olhos e com toda concentração, conseguiu depois de mil e uma noites de tentativas, visualizar uma rosa em sua imaginação. Com carinho, ele foi criando o ramo, as folhas e até mesmo o espinho; com calma, ele foi preenchendo de matéria-mente, cada pétala, desenhando as fibras, colorindo de vermelho cada curva e daí, ele sentiu que uma rosa vermelha surgia em sua imaginação e era uma rosa tão viva que ele, já não conseguia deixar de vê-la, podia até tocá-la e sentir seu perfume. 

Porém, a rosa que ele criara ainda era uma rosa de matéria-mente, e o Arlequim não se contentou com a sua criação e pensou em fazer algo diferente em seu jardim imaginário, mas antes que o fizera, nosso Palhaço Cósmico, percebeu que lá além, entre as fronteiras do Real e do Encantado, de onde vem tudo aquilo que não pode ser explicado, vinha um perfume de rosas tão intenso e quanto mais observava, mais ele sentia e viu, uma rosa gigante surgir no horizonte, quase como se fosse um sol no amanhecer do dia, ou uma lua cheia no escurecer da noite, e Arlequim sentiu - Matnis - que aquela Rosa era feita de matéria-espiritual e tinha sido enviada para ele como um presente.

Ao se aproximar da Rosa Gigante, nosso Encantonauta foi se agigantando também, até que a rosa coube na sua mão e ele sentiu sua textura, cheiro, formosura e quis levar aquela Rosa para a matéria-física, mas sabia que não podia, e comparou a Rosa da matéria-espiritual com a Rosa da matéria-mente e percebeu uma diferença; a Rosa que vinha do além das palavras, era uma Rosa Livre que não pertencia a ninguém, por isso, ela era gigante e fazia de quem a tocasse, imenso também. Ela não podia ser levada dali, colocada no jarro da possessão, e por isso, inspirou nosso Arlequim a deixá-la em seu lugar, em seu silêncio tão musical e nosso Palhaço a agradeceu e deu um "jóinha" para o Criador/Criadora, Jardineiros do Astral que a enviou para ele, e retornou a sua imaginação, e lá estava a Rosa de matéria-mente que ele havia criado e daí, com a mesma concentração e vontade, o nosso Jardineiro do Riso, deu a essa rosa, o último retoque que faltava: a deixou ir, se dissipar nos ventos da mente, do esquecimento do tempo e abriu seus olhos.

Quando seus olhos estavam abertos, ele olhou para o solo, *sentiu* e para as sementes de sua roseira e plantou novamente, e mais uma vez, e outra vez mais, até que um dia, do solo, um pequeno broto nasceu e pouco a pouco, foi crescendo, até que nasceu uma Jabuticabeira... 

Professor Frank Oliveira
🙏🏽

Sintam o Matnis
♣️♦️❤️♠️

quinta-feira, fevereiro 08, 2024

O Arlequim e o Mirim


O Arlequim estava naquela casa, castelo, labirinto ou o que quer que fosse isso, nesses dias que tudo não é nada nem aquilo, mas a gente se sente aflito, com o coração apertado, com o peito expandido como se um perigo pudesse nos fazer ficar ferido.

Naquele lugar, as paredes o apertava, e seus olhos buscavam alguma saída, até que ele viu um gatinho preto que se aproximou devagarinho e o nosso Palhaço Cósmico sentiu - *Matnis* - que deveria seguir aquele animalzinho e o fez. E o bichano, foi meio que mostrando a Arlequim que havia saída daquele lugar que poderia ser qualquer lugar que a gente entra e se sente aflito, quase desesperado, como se o mundo fosse acabar, mas não acabou, porque o gatinho lhe mostrou a saída e ali, logo depois de mil portinhas e pontas soltas, nosso Arlequim se viu fora daquela masmorra e quando quis agradeceu o gatinho, notou que o bichinho tinha sumido e apenas viu um guri bem pretinho.

- Você viu um gatinho por aqui? - Arlequim perguntou 

- Você viu um palhacinho perdido por ali? - disse o menino rindo e o Arlequim percebeu no olhar do moleque, um brilho de olhos felinos e começou a entender que o gatinho virarara o moleque ou teria sido o guri que tinha virado o gatinho.

- Você era o gatinho que me tirou de lá? - Perguntou o nosso Palhaço que, naquela situação, começou a rir sem parar. 

- Dependendo do lugar, até formiga eu me torno, eu caibo em todos os cantos. Sou mensageiro dos lugares onde ninguém consegue entrar, mas todos querem sair. Eu vejo tudo - Tudo eu Sinto.

- É. Eu queria mesmo sair daquele lugar e o pior que já nem me lembro como fui parar lá dentro...

- É assim com todos, palhacinho, se metem nas encrencas mais absurdas e criam castelos, carapuças, masmorras dentro de si. Daí, precisam contar com a astúcia dos meus serviços de mirim, é preciso ser assim para passar dentro de um buraco de uma agulha e desatar os nós que vocês mesmos dão em si mesmos.

- Mas de quem é esse castelo? Meu?

- Ora, meu não é - disse o guri rindo. 

- Como você sabia que eu estava em perigo?

Aí é que o menino riu mais ainda... 

- Todos tem um mirim dentro de si que os livra dos castelos e labirintos que criam. Mas eu não vim apenas te salvar, vim de trazer um recado do Pai Oxalá: para de construir castelos para te proteger contra todos. Quanto mais se tenta fugir do mundo, mas preso se fica dentro das masmorras da mente, enjaulado nos buracos do corpo. A vida é para sentir, às vezes é dor, às vezes é prazer, mas esse é o jogo. 

- Você fala tão bem para ser apenas uma criança...

- Eu nunca disse que era... - respondeu mirim que se transformou em um Leão e o Leão rugiu e falou - Exu tem a forma que a encrenca pede.

- Acho que eu prefiro o gatinho- disse o Arlequim e os dois gargalharam juntos até o Arlequim acordar daquele sonho, se sentindo leve e alegre, como se todo o peso do mundo tivesse sido retirado do seu corpo.

Exu Mirim é Mojubá

*Sintam o Matnis*
❤️♠️♦️♣️

sexta-feira, fevereiro 02, 2024

O Arlequim e a Mãe do Mar


Foi numa noite clara que o Arlequim olhou para o Mar e sabia, que embora seus olhos não pudessem ver, além da retina, sentiu que entrava na Grande Galunga e marinhejava no seu barco corpo diante da Grande Sereia. 

Ele não a invocara, nem cantara para ela, o nosso Palhaço Cósmico não estava num terreiro, mas era 02 de Fevereiro, e ela se apresentou e sua onda o banhou e foi levando-o para o fundo do mar.

Não resistiu, nem lutou, só poderia se entregar e se entregou e quando o fez sentiu Mamãe Janaína sorrindo, mas talvez fosse apenas o reflexo da meia-lua, não sabia, e quanto mais tentava enxergar o seu rosto, mas no escuro ele foi mergulhando e sentindo que ela se comunicava com ele, além da linguagem humana - Orixás não falam português - numa lingua assim, meio Matnis.

O Arlequim que não tinha nada a perder, não sentiu medo de não mais voltar, apenas foi sendo levado e Odoyá o colocou em seu colo e Arlequim sentiu que era o colo de todas as mães. Lembrou da sua mãezinha, lembrou da sua vó, lembrou da sua tia e de todas as mulheres que cuidaram dele ao longo da vida e percebeu que Yemanjá representava todas as mães, mesmo as mães que nunca tiveram filhos.

- Mãe - o Arlequim falou - Pensei que a Senhora fosse bem alvinha, da Cor da Virgem Maria, Nossa Senhora, Mãe de Jesus.

E Odoyá lhe respondeu ou o Arlequim imaginou, ali tudo era uma coisa só:

- Eu sou de todas as cores, meu filho, mas me manifesto nesse Portal do Útero da Vida, por onde passam os navegantes indo e voltando de suas lidas. Sou a Mãe África, mas também sou Todas As Mães de todas as Tribos desse povo humano que nesse planeta azul vem se manifestar. A cor da minha pele é a cor das estrelas cadentes que se refletem em minhas águas e são entregues a areia, se moldando no barro de Vovó Nanâ para se movimentarem e experimentarem o Amor e depois retornarem por esse mesmo portal como estrelas subintes, de volta aos braços de Olorum. 

- Então, estou morto, minha Mãe? - ele perguntou...

Então, o Arlequim viu novamente o sorriso de Inaê, que talvez fosse a meia-lua, vai saber e sentiu que do fundo do mar, vinham um grupo de seres que pareciam Golfinhos, mas eram outra coisa, ou talvez Cavalos Marinhos.

- Siga com o Povo do Mar, eles vão te levar de volta ao Reino de Oxalá para você se lembrar que Dandalunda não tem cor, não tem raça, não tem lenço, nem documento, não é humana e ainda assim, representa sim, a cultura africana, pois todo ser vivo é preto, mesmo quem atualmente, vista roupa branca. 

E o Povo do Mar foi levando o Arlequim de volta para a praia, enquanto o nosso Palhaço Cósmico escutava uma canção de ninar...

" Sereia, Sereia
Quando eu acordar 
Na areia 
Me permita lembrar
Recordar 
Que todos somos
Da mesma Aldeia
Aldeia da Rainha do Mar"

Gratidão
Obrigado
Valeu
🙏🏽

Sintam o Matnis
❤️♣️🌹♠️❤️

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